domingo, 23 de fevereiro de 2025

Agentes de Putin estimulam o caos global

Putin por trás de onda de atentados no Ocidente
Putin por trás de onda de atentados no Ocidente
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Ken McCallum, chefe da MI ('MI5, a agência de segurança interna e contrainteligência da Grã-Bretanha’) alertou que como produtos da ameaça representada pela Rússia “nós vimos incêndio, sabotagem e muito mais: ações perigosas conduzidas com crescente imprudência”, registrou uma longa e documentada reportagem da revista “The Economist” de Londres.

“O GRU (agência russa de inteligência militar) em particular, prosseguiu está desenvolvendo uma missão contínua para gerar caos nas ruas britânicas e europeias”, disse McCallum.

As outras agências de inteligência europeias estão igualmente preocupadas, acrescentou.

Em 14 de outubro, Bruno Kahl, chefe de espionagem da Alemanha, disse que as medidas secretas da Rússia haviam chegado a um “nível anteriormente invisível”.

Em seu apoio, Thomas Haldenwang, chefe dos serviços de inteligência domésticos da Alemanha, confirmou aos legisladores germanos que um ato russo de sabotagem quase causou um acidente de avião no início deste ano, e advirtiu que o “comportamento agressivo” dos espiões russos estava colocando vidas em risco.

A atividade de sabotagem aumentou com a guerra da Rússia na Ucrânia e foi num crescendo de agressão, subversão e intromissão em outros lugares. Em particular, na Europa cresceu dramaticamente.

“Vemos atos de sabotagem acontecendo na Europa agora”, disse por sua vez o vice-almirante Nils Andreas Stensones, chefe do Serviço de Inteligência da Noruega.

E Sir Richard Moore, o chefe do MI 6, a agência de inteligência estrangeira da Grã-Bretanha, colocou mais francamente: “Os serviços de inteligência russos foram um pouco selvagens, francamente”.

Os homens do Kremlin atentam contra interesses ocidentais emvários estados africanos. Os serviços de segurança da Polônia detetaram que hackers russos já tentaram paralisar o país nas esferas política, militar e econômica.

Os propagandistas russos, agindo em outra frente de ataque, têm bombeado desinformação em todo o mundo.

As forças armadas de Putin querem colocar uma arma nuclear em órbita. A política externa russa há muito alimenta o caos. Agora parece apontar para pouco mais.

Em abril de 2024, a Alemanha prendeu dois cidadãos germano-russos enquanto planejavam ataques contra instalações militares americanas e outros alvos instruídos pela GRU.

Ken McCallum, chefe da contraespionagem inglesa nos vemos atentados e sabotagens perigosas com crescente imprudência'
Ken McCallum, chefe da contraespionagem inglesa:
nós vemos atentados e sabotagens perigosas com crescente imprudência
No mesmo mês, a Polônia prendeu um homem que ia passar informações para o GRU sobre um centro de armas para a Ucrânia.

E, no mesmo mes, a Grã-Bretanha prendeu vários homens por um ataque incendiário a uma empresa de logística de propriedade ucraniana em Londres. Eles seriam agentes do Grupo Wagner, agora sob o controle do GRU.

Em junho, a França prendeu um russo-ucraniano ferido enquanto montava uma bomba em seu quarto de hotel em Paris.

Em julho, descobriu-se que a Rússia havia conspirado o assassinato de Armin Papperger, chefe da Rheinmetall, a maior empresa de armas da Alemanha.

Em 9 de setembro, o tráfego aéreo no aeroporto de Arlanda, em Estocolmo, foi fechado por mais de duas horas depois que drones foram vistos sobre as pistas. “Foi um ato deliberado”, disse um porta-voz da polícia.

Por sua vez, autoridades americanas alertam que os navios russos estão mapeando os cabos subaquáticos dos quais dependem a comunicação ocidental.

A Rússia também procura agitar com golpes de guerra psicológica. Por exemplo, a inteligência francesas diz que a Rússia despachou caixões envoltos na bandeira francesa com a mensagem “Soldados franceses da Ucrânia” encontrados na Torre Eiffel em Paris.

Muitas dessas ações visam atiçar a oposição à ajuda à Ucrânia. Mas outras se destinam simplesmente a ampliar divisões de todos os tipos na sociedade, mesmo sem ligação com a guerra.

Thomas Haldenwang, da Alemanha ' o 'comportamento agressivo' dos espiões russos coloca vidas em risco'
Thomas Haldenwang, da contraespionagem da Alemanha:
o 'comportamento agressivo' dos espiões russos coloca vidas em risco'
A França diz que o Kremlin promoveu um grafite de 250 estrelas de David nas paredes de Paris para alimentar o antissemitismo a propósito do conflito Israel-Hamas.

Em abril, hackers ligados ao GRU teriam manipulado sistemas de controle de centrais de água potável nos EUA e na Polônia.

Os esforços cibernéticos do GRU, não visam só a espionagem, mas também “daninficar a reputação” e destruir dados.

Oficiais do GRU foram instruir os houthis, grupo islâmico que ataca navios no Mar Vermelho, e lhes ofereceu armas. Putin visa estender a guerra da Rússia de forma mais ampla.

“Putin tenta nos atingir em todos os lugares”, argumenta Fiona Hill, que foi a principal autoridade no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, a respeito da Rússia. A estratégia se condensaria na frase “tudo em todos os lugares ao mesmo tempo”.

Em maio, Avril Haines, diretor de inteligência nacional dos EUA, chamou a Rússia de “a ameaça externa mais ativa às nossas eleições” acima da China ou do Irã.

Não se tratava apenas de tentar moldar a política dos Estados Unidos sobre a Ucrânia, Moscou quer “um meio de derrubar os EUA” que ela tem em conta de adversário primário.

Em julho, as agências de inteligência americanas estavam vendo “a Rússia atingir dados demográficos dos eleitores, promover narrativas divisivas e denegrir políticos específicos”.

Os atentados e sabotagens no Báltico estão recrudescendo
Os atentados e sabotagens no Báltico estão recrudescendo
Esses esforços são geralmente brutos e ineficazes, comentou “The Economist”, mas não por isso não deixam de deixar prolíficas e intensas sequelas.

Em setembro, o Departamento de Justiça dos EUA condenou dois funcionários da RT, uma mídia controlada pelo Kremlin que regularmente vomita teorias da conspiração sinistras. Eles teriam pago US $ 10 milhões à Tenet Media, empresa do Tennessee para produzir quase 2.000 vídeos no TikTok, Instagram, X e YouTube. O Departamento também apreendeu 32 domínios de internet controlados pelo Kremlin, projetados para imitar sites de notícias legítimos.

A CopyCop, rede de sites, pega artigos de notícias legítimos e usou o Chat GPT, um modelo de IA, para reescrevê-los.

Mais de 90 artigos franceses foram modificados com o alerta: “Por favor, reescreva este artigo tomando uma posição conservadora contra as políticas liberais do governo Macron em favor dos cidadãos franceses da classe trabalhadora”.

As campanhas de desinformação russas não são novas, reconhece Sergey Radchenko, historiador da política russa, apontando episódios como o memorando de Tanaka, uma falsificação soviética usada para desacreditar o Japão em 1927.

Também houve tropas soviéticas lutando no Iêmen, disfarçadas de egípcias, no início dos anos 1960, e os antecessores e sucessores da KGB mataram muitas pessoas no exterior, de Leon Trotsky a o ex-espião Alexander Litvinenko.

As artérias informáticas e energéticas ocidentais estão sendo alvejadas
As artérias informáticas e energéticas ocidentais estão sendo alvejadas
A parte genuinamente nova, diz Radchenko, “é que, antes as operações apoiavam a política externa, mas hoje são a política externa”. A acao atual lembra mais a política externa niilista de Mao durante a Revolução Cultural da China do que o pensamento da União Soviética na guerra fria. Hill a define assim: “é Trotsky sobre Lênin”.

Putin abraça essas ideias. “Estamos provavelmente na década mais perigosa, imprevisível e, ao mesmo tempo, mais importante desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, disse o ditador no final de 2022. Na ocasião, ele invocou um artigo de Lenin em 1913 preparador da Revolucao bolchevista: “esta é uma situação revolucionária”.

“Neste momento, há mudanças como as que não vemos há 100 anos”, disse Xi Jinping a Putin em 2023 em Moscou, “e somos nós que impulsionamos essas mudanças juntos”.

A estratégia conjunta se apresenta como quem “não se considera um inimigo do Ocidente... e não tem más intenções”, mas de fato é o contrário. E atiça uma “campanha de informação ofensiva” nas “esferas militares-políticas, econômicas e informacionais-psicológicas” para “enfraquecer os adversários da Rússia”.

Essa estratégia da Rússia não é imparável e até fracassou em alguns países. A subversão russa pode ser interrompida, diz Sir Richard, identificando os oficiais de inteligência e os representantes criminais por trás dela.

Moscou por trás das sabotagens no Mar Báltico usando uma 'frota fantasma'. Mais ataques no Ocidente seriam 'iminentes'
Moscou por trás das sabotagens no Mar Báltico usando uma 'frota fantasma'.
Mais ataques no Ocidente seriam 'iminentes'
Acresce que a Rússia depende cada vez mais de criminosos porque espiões russos mais qualificados foram expulsos em massa da Europa. E a Rússia dá sinais de desespero, diz McCallum.

Putin está verdadeiramente impulsionado por um espírito revolucionário, convencido de que o Ocidente é um edifício podre, isso sugere que ousará cruzar “linhas vermelhas” nos meses à frente.


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