domingo, 4 de outubro de 2020

Veneno: arma preferida da Rússia

Pyotr Verzilovlevado de urgência a um hospital em Berlmn em 2018.
Pyotr Verzilovlevado de urgência a um hospital em Berlmn em 2018.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O opositor russo Alexei Navalny foi envenenado com Novichok, um poderoso tóxico reservado para uso da polícia secreta.

A substância foi misturada no chá que os russos tomam em abundância durante um pouso de emergência seu voo na cidade siberiana de Omsk segundo órgãos da imprensa internacional como “El Mundo”.

Navalny foi salvo num hospital militar alemão especializado nos venenos da repressão russa. Felizmente está dando sinais de lucidez embora ainda seja necessário avaliar danos derivados do tóxico.

A Rússia se recusa a devolver as roupas da vítima que poderiam trazer indícios e fechou o partido do próprio Navalny. Mas, amigos da vítima resgataram uma garrafinha de água do hotel comm restos de Novichock. Cfr. “El Mundo”.

Apenas recuperado do violento trauma Alexei Navalny acusou diretamente a Vladimir Putin de estar “por trás” de seu envenenamento.

A vítima opositora falou na sua primeira entrevista após sair do hospital.

O chefe do Kremlin deu a ordem. “Não há outra explicação” declarou ao semanário 'Der Spiegel', citado por “El Mundo”.
O opositor Navalny em hospital da Alemanha que conseguiu recuperá-lo com muito esforço.
O opositor Alexei Navalny em hospital da Alemanha
que conseguiu recuperá-lo com muito esforço.
Viacheslav Volodin, presidente da Duma, câmara dos deputados do Parlamento russo, inocentou a Putin e acusou a Navalny de trabalhar para os serviços secretos ocidentais, acrescentou o jornal espanhol.

Tudo no melhor estilo da velha Rússia soviética.

Os países ocidentais exigiram que fosse tratado na Alemanha onde o veneno foi confirmado e a vítima foi dada de alta no hospital alemão sofrendo sérias consequências.

A intoxicação pela polícia secreta aconteceu quando Navalny recopilava material na Sibéria em investigações sobre a corrupção no governo.

O crime aconteceu quando a dissidência russa está ganhando novo impulso. Em Jabarovsk, no oriente do país, continuavam concentrações massivas periódicas em apoio do ex governador Serguey Furgal, sequestrado a ordens do presidente Vladimir Putin pelo crime de ganhar a eleição superando o candidato de Moscou.

Os manifestantes em Jabarovsk externam solidariedade com os manifestantes da Bielorrússia para além da fronteira ocidental russa. O ditador Alexander Lukashenko aguarda o auxílio do seu senhor russo porque não controla as manifestações populares contra a fraude eleitoral.

Por sua parte, Navalny criou a Fundação Anticorrupção, que vem destampando dezenas de escândalos da nomenklatura putinista.

Ele ia morrer no hospital russo de Omsk, onde “os médicos faziam o que lhes era mandado fazer no Kremlin”, segundo garantiu a agencia Franceinfo, Cécile Vaissié, professora de estudos russos, soviéticos e pós-soviéticos na Universidade francesa Rennes 2.

A prof.a Vaissié observou que “já houve outros casos deste tipo e parece que depois de alguns dias são evacuadas substâncias (...) tínhamos imagens absolutamente terríveis, esse hospital estava abarrotado de forças de segurança, que tomavam as decisões em vez dos médicos”.

“As forças de segurança, prosseguiu estavam impedindo a esposa de Navalny de ir ver seu marido e de ter acesso a médicos alemães.

Navalny foi preso durante a última eleição presidencial para não reunir votos anti-Putin
Navalny foi preso durante a última eleição presidencial para não reunir votos anti-Putin

“A decisão foi política, Merkel, Macron, o presidente da Finlândia e o presidente do Conselho Europeu telefonaram pessoalmente para Putin e subitamente a decisão dos médicos mudou em menos de cinco minutos.

“Os médicos fizeram o que lhes foi ordenado no Kremlin”.

Interrogada pela agência do porquê do atentado a Navalny, a prof.a respondeu:

“Navalny revelou toda a extensão da corrupção que os russos estavam vendo. O menor governador mora em um palácio absolutamente enorme. Ele é inteligente e está absolutamente impedido de acessar os canais públicos russos.

“Mas tem uma imagem de político, por isso queriam silenciá-lo por todos os meios, julgamentos, prisão e agora aceleraram o ritmo.

“Temos uma série de envenenamentos. Recomeçou em 2003 com um jornalista que tratava de casos de corrupção. Ele adoeceu na casa dos cinquenta anos, e durante dez dias não tivemos mais notícias até quando morreu.

“Seu corpo não foi devolvido para a família e nem sequer mostraram seu arquivo médico. O Kremlin tem muita experiência em envenenar seus opositores políticos. É uma tradição”.

O ex-presidente ucraniano Viktor Yushchenk ficou com marcas faciais do veneno russo
O ex-presidente ucraniano Viktor Yushchenk
ficou com marcas faciais do veneno russo

Há dois anos, sem explicação alguma o opositor Pyotr Verzilov, caiu repentinamente em coma, mas não morreu: isso é um problema comum para os opositores do Kremlin.

Verzilov teve os mesmos misteriosos sintomas que afetaram a Alexei Navalny.

“Estava exatamente como eu, disse Verzilov a Rain TV, uma TV russa independente. Verzilov também foi salvo na Alemanha, após que os médicos russos o liberaram após seu corpo eliminar os rastros do veneno.

O veneno é ferramenta favorita das agências de inteligência russas escreveu “The New York Times International Weekly”.  E a arma ainda está em uso.

Outros países, incluindo os EUA e Israel, suprimem assassinos em manobras de contraterrorismo.

Mas s Rússia extingue e com sadismo quem não afina com o pensamento oficial.

Ela criou um laboratório secreto para elaborar venenos insípidos e indetectáveis, especialmente concebidos para desertores do serviço de segurança, testados em prisioneiros do Gulag.

Após uma série de tentativas de assassinato de dissidentes, jornalistas, desertores e líderes da oposição na Rússia e no exterior nas últimas duas décadas, ficou claro que o governo de Putin utiliza o arsenal soviético de venenos como arma preferida.

Polônio-210 radioativo, metais pesados, gelsem com uma rara toxina vegetal do Himalaia e mais recentemente Novichuk, agente nervoso militar letal ao toque.

Contaminar uma refeição ou uma xícara de chá com ele é simples e não requer treinamento especial, disse Gennadi V. Gudkov, ex-coronel da KGB, em entrevista telefônica. “É fácil cobrir seus rastros”, acrescentou.

Os venenos podem visar matar ou incapacitar com uma doença longa e desagradável, disse ele.

Alexandre Litvinenko, antes e depois do envenenamento fatal na Inglaterra
Alexandre Litvinenko, antes e depois do envenenamento fatal na Inglaterra
O ex-presidente pró-Ocidente da Ucrânia, Viktor A. Yushchenko, ficou com o rosto desfigurado depois de ser envenenado com dioxina.

Navalny foi levado para um hospital siberiano depois de sua doença repentina cuja causa os médicos nunca explicaram.

Não é a primeira vez que uma figura da oposição é atacada enquanto estava sentado no ambiente controlado de um jato comercial na Rússia.

Em 2015, o ativista da oposição Vladimir Kara-Murza foi envenenado num avião da Aeroflot e os sintomas incluíram inchaço no cérebro e insuficiência renal. Sua esposa, Yevgenia, lembra que seus braços e pernas adquiriram uma tonalidade azul, típica do veneno.

Kara-Murza voltou a ser envenenado em 2017, enquanto viajava pela Rússia para mostrar um documentário sobre Boris Y. Nemtsov, que em 2015 foi baleado e morto numa ponte de Moscou.

Em 2004, a jornalista Anna Politkovskaya foi envenenada em um vôo doméstico, mas sobreviveu. Dois anos depois foi baleada e morta no elevador de seu apartamento.

O terrorista Ibn al-Khattab, morreu em 2002 em seu esconderijo nas montanhas da Chechênia, após abrir uma carta com um agente nervoso.

Em 1995, o banqueiro russo Ivan K. Kivelidi, morreu após tocar num veneno mortal ao contato. Sua secretária morreu com os mesmos sintomas, porque o veneno se espalhou no receptor de um telefone do escritório.


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