domingo, 6 de outubro de 2024

Milhares de recrutas russos sem treino militar se rendem

Rendição de milhares de conscritos russos é uma dor de cabeça para Putin
Rendição de milhares de recrutas russos é uma dor de cabeça para Putin
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Mais de 300 jovens recrutas russos foram interrogados numa prisão ucraniana visando sua troca por prisioneiros ucranianos cativos dos invasores. O jornal americano “The New York Times”, assistiu à cena e a relatou.

Eles tinham um rosto jovial e corpos delgados. A batalha que perderam e em que ficaram prisioneiros na região de Kursk foi a primeira de suas jovens vidas.

O “New York Times” os menciona só pelo primeiro nome para garantir sua segurança caso sejam devolvidos à Rússia. O simples fato de ter falado diante de repórteres americanos poderia lhes custar excessivamente caro voltando ao despotismo putinista.

Na prisão ucraniana viviam deitados em beliches ou sentados em bancos de madeira, assistindo a desenhos animados numa televisão fornecida pelo carcereiro. De fato, pareciam nunca ter saído de casa.

Vasily, capturado no início da incursão ucraniana na Rússia contou que o único que ele e seus colegas pensaram foi em fugir e se esconder num arvoredo onde foram capturados ingenuamente por astutos ucranianos.

Os jovens soldados nas entrevistas descreveram como se tinham rendido ou abandonado as suas posições espantosamente desorganizadas.

Conscritos russos en Kursk mal conseguiam combater sem treino nem armas, com oficiais incompetentes
Recrutas russos em Kursk mal conseguiam combater
sem treino nem armas, com oficiais incompetentes
Vasily disse: “nunca pensei que isso fosse acontecer”, referindo-se ao ataque ucraniano.

O comando militar russo parecia ter achado que nunca ocorreria o que aconteceu e instalou nas defesas fronteiriças recrutas inexperientes, alguns com poucos meses nas filas.

Não houve sangrentas lutas: os recrutas abandonaram as suas posições percebendo que acontecia o nunca imaginado e que sua inferioridade em número e armas era grande demais.

A lei proíbe enviar recrutas para fora da Rússia e o exército, com falta de combatentes treinados, utilizou os jovens ignorantes para proteger a fronteira.

Na Rússia, os recrutas são enrolados após o ensino médio para tarefas braçais, como remover neve de bases.

Os soldados, porém, devem ser voluntários e são contratados, sendo melhor pagos e hoje suportam o peso das guerras na Síria e na Ucrânia.

Foi assim que sem muita dificuldade que os ucranianos que capturaram centenas de jovens numa semana e meia.

A prisão ucraniana de Sumy, já interrogou 320 prisioneiros de guerra, 80% deles recrutas, antes de serem enviados para mais longe dos combates, amontoados em celas no porão, onde estão protegidos de possíveis ataques aéreos.

Eles usavam moletons, camisetas e shorts que seus captores lhes haviam fornecido. Alguns tinham ferimentos de estilhaços ou balas.

Com os olhos arregalados e aparentemente desorientados, observaram enquanto os guardas escoltavam os jornalistas até às celas para entrevistá-los.

Eles foram estacionados em pelotões de 30 em fortes de concreto ou terra a pouco menos de 2 quilômetros ao longo da fronteira. Lá eles fugiram com presteza, segundo testemunhas.

Os recrutas russos prisioneiros narraram condições penosas no exército russo
Os recrutas russos prisioneiros narraram condições penosas no exército russo
A bem dizer, eles não estavam interessados em dar a vida por Putin.

A população recebeu alimentos e ajuda humanitária dos ucranianos e Moscou mandou deportar a 200.000 cidadãos russos, parecendo desconfiar da simpatia desses pelos ucranianos.

Igor, um jovem magro de 21 anos contou: “informamos os comandantes, mas eles não reagiram”. Então concluíram que “não podemos fazer nada” e se refugiaram numa fortificação que logo pegou fogo.

A corrupção no exército russo, objeto de continuados expurgos, consumiu os recursos para reforçar as defesas fronteiriças junto à Ucrânia.

O grupo de Igor tinha apenas um rifle sem recuo com o qual nunca foram capazes de acertar os veículos de combate Bradley ucranianos fornecidos pelos EUA. O rifle disparava, mas o cano estava torto e o tiro saia na direção errada.

Sergei, de 20 anos, é do vale do rio Volga, contou que o líder do seu pelotão de 28 soldados ordenou uma retirada caótica. Refugiaram-se numa casa da cidade, até que chegaram os soldados ucranianos.

A reação foi unânime e o líder do pelotão gritou pela janela: “Há recrutas aqui. Queremos nos render.”

Dmitry, 21 anos, do norte da Rússia, disse que seus rádios pararam de funcionar no dia que, segundo lhes tinham dito, nunca viria o inimigo.

Os ucranianos descreveram uma defesa russa fraca e desorientada.

E os recrutas do “segundo maior exército do mundo” continuam a ser capturados.

Bradley ucraniano avança celeremente dentro da Rússia
Bradley ucraniano avança celeremente dentro da Rússia.
Ucranianos ficaram surpresos pela fraqueza das defesas russas
As perdas de jovens soldados ucranianos recrutados pela URSS para as guerras no Afeganistão e na Chechênia tinham causado descontentamento generalizado.

Agora, famílias perturbadas organizaram protestos semanais em Kiev, a capital ucraniana, para chamar a atenção para seus entes queridos detidos. A Rússia não revela o número de ucranianos que capturou, mas presume-se que há mais ucranianos do que russos.

A chegada dos recrutas presos deixou felizes as famílias de soldados ucranianos detidos na Rússia pois poderá haver um intercâmbio de prisioneiros mais numeroso.

Exemplo típico é Tetyana Vyshnyak que tem um filho capturado e condenado a 22 anos de prisão russa.

Havia pouca esperança de que ele fosse libertado, mas agora, disse ela, “para todos nós, esta é uma grande oportunidade e esperamos que nossos entes queridos sejam redimidos”.

Valeria Subotina, ex-assessora de imprensa do Regimento Azov, passou 11 meses em cativeiro russo antes de uma troca em 2023, disse: “espero que a operação na região de Kursk possa mudar isto”.

Soldados russos protestam contra o 'trato animalesco' que recebem dos oficiais
Soldados russos protestam contra o 'trato animalesco' que recebem dos oficiais
Acresce que os ucranianos presos na guerra são maltratados, torturados, forçados a trabalhos esgotadores, e até assassinados nos campos de concentração russos, contra todas as normas internacionais sobre o trato dos prisioneiros de guerra.

Putin acena com recrutar números mirabolantes de jovens ou operários nessas condições, mas não há tempo para lhes dar treino militar.

Além do mais carece angustiantemente de uniformes, armas, veículos, combustíveis e fornecimentos para sustentá-los.

Agora precisa tirar soldados profissionais da Ucrânia para conter a invasão de seu território pelos ucranianos que jamais imaginaram encontrar uma resistência tão fraca.

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