domingo, 23 de janeiro de 2022

David lituano enfrenta Golias chinês

Na inauguração do escritório diplomático deTaiwan na capital lituana
Na inauguração do escritório diplomático de Taiwan na capital lituana
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Um pequeno país de 2,8 milhões de habitantes está desafiando a poderosa China. É a Lituânia que intensificou seu relacionamento com a ilha de Taiwan, incomodando os ditadores de Pequim. Esses querem engolir a ilha como fizeram com Hong Kong, alegando que é parte de seu território.

Não é a primeira vez que o heroico David báltico enfrenta um Golias da iniquidade. Foi o que fez desafiando a ditadura invasora e esmagadora da União Soviética, sendo o estopim de uma corrente de efeitos análogos que acabaram com a dissolução da URSS, segundo reportagem de “La Nación”.

A Lituânia aprovou a abertura de um Escritório de Representação de Taiwan, que é uma embaixada de fato. A resposta da China socialista foi rebaixar suas relações diplomáticas com o pequeno país báltico e retirar seu embaixador.

É o primeiro novo posto diplomático de Taiwan na Europa em 18 anos.

O Ministério das Relações Exteriores da China resmungou que a ação da Lituânia “mina a soberania e a integridade territorial da China” e cria um “precedente ruim em nível internacional”.

Taiwan comemorou intensamente a primeira abertura de uma representação dipllomática na Europa em 18 anos
Taiwan comemorou intensamente a primeira abertura
de uma representação diplomática na Europa em 18 anos
Mais um ponto de atrito se abriu quando o Ministério da Defesa lituano instou os cidadãos a descartar os telefones chineses e evitar comprá-los.

O National Cyber Security Center lituano comprovou que os telefones da Xiaomi incluem ferramentas de censura, e os da Huawei apresentavam falhas de segurança. Arranjos maliciosos análogos foram detectados em outros países.

A Lituânia defende o direito de se relacionar com Taiwan, grande fornecedor de semicondutores, lasers e outras indústrias de alta tecnologia, mas diz respeitar a política de “uma China”.

Diversas figuras públicas e políticos do país báltico assinaram uma carta aberta ao presidente Gitanas Nauseda em 2020, na qual pediam que a nação apoiasse a independência de Taiwan e sua admissão à Organização Mundial da Saúde.

Konstantinas Andrijauskas, do Instituto de Relações Internacionais e Ciências Políticas da Universidade de Vilnius, explicou para a BBC Mundo que “a Lituânia lida há décadas não apenas com a China, mas também com os vizinhos russos e bielorrussos, e nossa experiência sugere que relações econômicas profundas não trazem prosperidade”.

Atitudes da China evocam as lituanos a opressão comunista russa, tanques soviéticos em Vilnius, esmagam manifestantes
Atitudes da China evocam as lituanos a opressão comunista russa,
Na foto: tanques soviéticos em Vilnius, esmagam manifestantes
Tampouco “trazem segurança porque os países autoritários tendem a enfatizar o contexto econômico para perseguir objetivos geopolíticos e políticos”.

O vice-ministro Mantas Adomėnas disse à BBC Mundo que seu governo “enfatiza o apoio à democracia e aos direitos humanos em todo o mundo”.

E acrescentou que “Taiwan nunca reconheceu a ocupação soviética da Lituânia e temos uma espécie de dívida”.

A Lituânia não depende tanto de investimentos chineses, nem do comércio com a China, e o país socialista está aplicando restrições à importação de bens materiais e cortando exportações para a Lituânia em violação das regras do comércio internacional, segundo o vice-ministro da Lituânia.

Ele deplorou que a União Europeia não “tenha uma posição unida e baseada em princípios, vis-à-vis das medidas de coerção econômica que a China está aplicando em relação a um de seus próprios estados-membros”.

Ele fazia referência a países da Europa Central membros da UE que estão desmantelando velhas estruturas soviéticas e repelindo normas de espírito dirigista e imoral ditadas arbitrariamente por Bruxelas.

A Lituânia, em 1990, foi a primeira república soviética a declarar sua independência de Moscou, liderada por Vytautas Landsbergis, avô do atual ministro das Relações Exteriores, Gabrielius Landsbergis.

Gabrielius Landsbergis, ministro de Relações Exteriores da Lituânia, neto do líder da independência dos soviéticos
Gabrielius Landsbergis, ministro de Relações Exteriores da Lituânia,
neto do líder da independência dos soviéticos
Na opinião de Andrijauskas, na Lituânia pode haver um ressentimento em relação à China justamente pela memória do domínio de Moscou.

“Muitos lituanos associam sua experiência na União Soviética com a experiência dos uigures, dos tibetanos, dos hongcongueses ...”, minorias brutalmente reprimidas pela ditadura socialista chinesa.

A Lituânia também se posicionou contra um dos maiores aliados de Moscou, a Bielorrússia, e contra seu presidente Alexandr Lukashenko, perpetuador do regime soviético.

A líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanovskaya, vive na Lituânia desde que fugiu de seu país.

O vice-ministro lembra o papel da Islândia, primeiro país a reconhecer a independência da Lituânia, e que deu um imenso impulso moral ao pequeno país báltico que se debatia para se livrar da bota comunista russa.

O vice-ministro Mantas Adomėnas acrescentou ter a esperança de “poder levar aos taiwaneses que estão lutando pela sobrevivência de sua democracia e de seu modo de vida” o “tipo de tocha que a Islândia nos deu há 31 anos”.


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