| Na inauguração do escritório diplomático de Taiwan na capital lituana |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Um pequeno país de 2,8 milhões de habitantes está desafiando a poderosa China. É a Lituânia que intensificou seu relacionamento com a ilha de Taiwan, incomodando os ditadores de Pequim. Esses querem engolir a ilha como fizeram com Hong Kong, alegando que é parte de seu território.
Não é a primeira vez que o heroico David báltico enfrenta um Golias da iniquidade. Foi o que fez desafiando a ditadura invasora e esmagadora da União Soviética, sendo o estopim de uma corrente de efeitos análogos que acabaram com a dissolução da URSS, segundo reportagem de “La Nación”.
A Lituânia aprovou a abertura de um Escritório de Representação de Taiwan, que é uma embaixada de fato. A resposta da China socialista foi rebaixar suas relações diplomáticas com o pequeno país báltico e retirar seu embaixador.
É o primeiro novo posto diplomático de Taiwan na Europa em 18 anos.
O Ministério das Relações Exteriores da China resmungou que a ação da Lituânia “mina a soberania e a integridade territorial da China” e cria um “precedente ruim em nível internacional”.
| Taiwan comemorou intensamente a primeira abertura de uma representação diplomática na Europa em 18 anos |
O National Cyber Security Center lituano comprovou que os telefones da Xiaomi incluem ferramentas de censura, e os da Huawei apresentavam falhas de segurança. Arranjos maliciosos análogos foram detectados em outros países.
A Lituânia defende o direito de se relacionar com Taiwan, grande fornecedor de semicondutores, lasers e outras indústrias de alta tecnologia, mas diz respeitar a política de “uma China”.
Diversas figuras públicas e políticos do país báltico assinaram uma carta aberta ao presidente Gitanas Nauseda em 2020, na qual pediam que a nação apoiasse a independência de Taiwan e sua admissão à Organização Mundial da Saúde.
Konstantinas Andrijauskas, do Instituto de Relações Internacionais e Ciências Políticas da Universidade de Vilnius, explicou para a BBC Mundo que “a Lituânia lida há décadas não apenas com a China, mas também com os vizinhos russos e bielorrussos, e nossa experiência sugere que relações econômicas profundas não trazem prosperidade”.
| Atitudes da China evocam as lituanos a opressão comunista russa, Na foto: tanques soviéticos em Vilnius, esmagam manifestantes |
O vice-ministro Mantas Adomėnas disse à BBC Mundo que seu governo “enfatiza o apoio à democracia e aos direitos humanos em todo o mundo”.
E acrescentou que “Taiwan nunca reconheceu a ocupação soviética da Lituânia e temos uma espécie de dívida”.
A Lituânia não depende tanto de investimentos chineses, nem do comércio com a China, e o país socialista está aplicando restrições à importação de bens materiais e cortando exportações para a Lituânia em violação das regras do comércio internacional, segundo o vice-ministro da Lituânia.
Ele deplorou que a União Europeia não “tenha uma posição unida e baseada em princípios, vis-à-vis das medidas de coerção econômica que a China está aplicando em relação a um de seus próprios estados-membros”.
Ele fazia referência a países da Europa Central membros da UE que estão desmantelando velhas estruturas soviéticas e repelindo normas de espírito dirigista e imoral ditadas arbitrariamente por Bruxelas.
A Lituânia, em 1990, foi a primeira república soviética a declarar sua independência de Moscou, liderada por Vytautas Landsbergis, avô do atual ministro das Relações Exteriores, Gabrielius Landsbergis.
| Gabrielius Landsbergis, ministro de Relações Exteriores da Lituânia, neto do líder da independência dos soviéticos |
“Muitos lituanos associam sua experiência na União Soviética com a experiência dos uigures, dos tibetanos, dos hongcongueses ...”, minorias brutalmente reprimidas pela ditadura socialista chinesa.
A Lituânia também se posicionou contra um dos maiores aliados de Moscou, a Bielorrússia, e contra seu presidente Alexandr Lukashenko, perpetuador do regime soviético.
A líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanovskaya, vive na Lituânia desde que fugiu de seu país.
O vice-ministro lembra o papel da Islândia, primeiro país a reconhecer a independência da Lituânia, e que deu um imenso impulso moral ao pequeno país báltico que se debatia para se livrar da bota comunista russa.
O vice-ministro Mantas Adomėnas acrescentou ter a esperança de “poder levar aos taiwaneses que estão lutando pela sobrevivência de sua democracia e de seu modo de vida” o “tipo de tocha que a Islândia nos deu há 31 anos”.



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