domingo, 9 de janeiro de 2022

Ucrânia: III Guerra Mundial ou conversão da Rússia?

Concentração de tropas russas na fronteira ucraniana
Concentração de tropas russas na fronteira ucraniana
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Na fronteira russo-ucraniana estão em jogo duas opções opostas que podem mudar a História. Enquanto isso, o Cazaquistão pega fogo nas costas de Putin


Pelo menos desde 30 de novembro 2021, os EUA vêm advertindo a Rússia de Putin que uma nova “agressão” contra a Ucrânia teria graves consequências. A potência americana alerta constantemente a OTAN para preparar o revide possível a uma invasão russa do vizinho.

Os EUA temem que o ataque possa acontecer nos primeiros meses de 2022 a julgar pelos movimentos militares flagrados por satélites e interceptações radiais. De início, a Rússia negou mas agora acabou reconhecendo a intenção invasora e reforçou suas ameaças verbais.

Porém, as últimas declarações do presidente Biden sugerem que se a Rússia invade, os EUA reagiriam com armas letais, malgrado a Ucrânia não faça parte da OTAN.

A advertência inicial americana à OTAN deu a entender que o maior peso de um eventual conflito envolveria centenas de milhares de homens e cairia sobre a Europa.

Compreende-se que o Secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, advertisse com firmeza o Kremlin: “qualquer futura agressão russa contra a Ucrânia terá um preço alto e graves consequências políticas e econômicas para a Rússia”.

E agravou suas palavras dizendo: “devemos nos preparar para o pior e enviar a mensagem à Rússia de não conduzir uma incursão militar na Ucrânia” .

Tanques ucranianos em exercícios
Tanques ucranianos em exercícios
O jornal americano Washington Post bem entrosado na administração democrata da Casa Branca denunciou em 3 de dezembro que Putin prepara exércitos de 175 mil soldados para uma ofensiva contra a Ucrânia.

Moscou está dispondo em esquema de invasão “100 batalhões dotados de tanques, artilharia, drones e outros equipamentos”, confiou ao jornal um alto funcionário dos EUA sob condição de anonimato.

Para o chefe do exército britânico, almirante Sir Tony Radakin, a invasão russa poderá ser de uma escala “não vista na Europa desde a II Guerra Mundial” .

O Pentágono se disse “muito preocupado com as evidências dos planos da Rússia de ação agressiva contra a Ucrânia”. A concentração das forças russas foi flagrada em quatro posições estratégicas decisivas para uma ofensiva de grande vulto.

A Ucrânia não faz parte da OTAN e em princípio não pode receber equipamentos de efeito letal. Mas tudo mudaria se a Rússia desencadeia as formidáveis concentrações de tropas que dispôs nas fronteiras.

“Estamos profundamente preocupados com os planos da Rússia de uma nova agressão contra a Ucrânia”, disse em Estocolmo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na presença de seu homólogo russo, Sergey Lavrov.

Blinken falou pela primeira vez de “evidências” de preparações de invasão.

Na ocasião, Lavrov não ficou por menos em suas ameaças verbais evocando o esquema político que precedeu a invasão da Polônia em 1939 e desencadeou pelo jogo das alianças a II Guerra Mundial .

Moscou usa a Bielorrússia contra a Polônia


Polônia chama situação na fronteira com Belarus de 'guerra de novo tipo'
Polônia chama situação na fronteira com Belarrússia de 'guerra de novo tipo'
Encostada na Ucrânia, a própria Polônia está sujeita a provocações perturbadoras da Bielorrússia, satélite de Moscou.

A ditadura bielo-russa de Aleksandr Lukashenko, um dos péssimos restos ativos do império soviético, periclita ante o descontentamento popular e aprontou um conflito fronteiriço como manobra distrativa.

Fez vir de avião milhares de refugiados do Oriente Médio desde a Turquia e os jogou sem recursos na fronteira polonesa. Obviamente esses miseráveis tentam cruzar a fronteira de qualquer jeito e os poloneses não aceitam.

As autoridades de Varsóvia discernem uma provocação e ergueram um muro de arame farpado. Os refugiados desprovidos de tudo ficaram no frio, comum nesta época na Europa Central, e muitos morreram de hipotermia.

Para os observadores atentos esses sinistros episódios conformam uma ofensiva de “guerra híbrida” tantas vezes aplicada com sucesso por Vladimir Putin, distraindo atenções para o conflito que se adensa na fronteira ucraniana.

“Vimos a estratégia russa em várias ocasiões criando do zero provocações” para justificar uma intervenção, disse Blinken.

Moscou, que invadiu a Crimeia em 2014 e sustenta os separatistas em guerra contra Kiev que já custou mais de 13.000 vidas, negou como sempre o ataque e, também como sempre, ninguém sério acredita.

Rússia não quer Ucrânia na OTAN


Foto satelital de acampamento russo na Crimeia
Foto satelital de acampamento russo na Crimeia
Putin urdiu a ficção de que a OTAN quer instalar mísseis de meio alcance em território ucraniano para atingir Moscou e São Petersburgo e que essa ameaça justificaria uma invasão preventiva russa.

Junto com a Polônia, a Lituânia e a Letônia, membros da OTAN, acusam a Bielo-Rússia de orquestrar a crise migratória. O presidente polonês Andrzej Duda falou de aumentar as tropas da OTAN junto a Bielo-Rússia que Putin ama como se fosse sua.

O Primeiro Ministro da Ucrânia, Denys Chmyhal, declarou à agência Euronews, que está havendo um movimento de desestabilização dentro da Ucrânia para impedir que o país se integre à federação europeia. Essa agitação visa desestabilizar a Europa toda com crises migratórias, a crise energética, e ataques cibernéticos .

China apoia a Rússia


Putin advertiu o Ocidente e Kiev para não cruzar as “linhas vermelhas” por ele inventadas, que incluiriam exercícios militares conjuntos e fornecimento de armas à Ucrânia.

Para Blinken, a Rússia aplica um sistema de mentiradas ou “desinformação” como fez quando invadiu a Crimeia, visando retratar Kiev como o “agressor” .

A troca de ameaças verbais concluiu com um ultimato russo: ou a OTAN desiste de admitir a Ucrânia e qualquer outro país vizinho da Rússia ou a beligerância será inevitável.

Putin e Xi Jinping puseram de lado interesses secundários e intensificaram os liames que os unem, sobre tudo o passado imperialista marxista.

Frotas de guerras russa e chinesa entram desafiantes no Mar do Japão
Frotas de guerras russa e chinesa entram desafiantes no Mar do Japão
Putin agora só fala de seu “querido amigo” e o líder maoísta quer ter a seu lado o “velho amigo” nos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim.

Ele quer revidar o boicote diplomático dos EUA, Canadá, Australia, Reino Unido, Japão e Nova Zelândia, entre outros, pela violação sistemática dos direitos humanos contra as etnias que não aceitam a opressão de Pequim, como os turcomenos uigures; a ocupação de seu país como os tibetanos, ou a prisão e extermínio de minorias religiosas.

Xi Jinping engana dizendo que junto com Putin estão “defendendo o verdadeiro significado da democracia e dos direitos humanos”.

No caso chinês esse “verdadeiro significado” chega ao ponto de sacrificar seres humanos de minorias étnicas e religiosas para lhes arrancar os órgãos e revende-los “frescos” para transplantes.

Putin sublinha que ambos países são ‘pilares da não-ingerência nos assuntos internos’ enquanto mantém ocupados territórios de vários países vizinhos e ameaça a Ucrânia; enquanto a China multiplica as provocações bélicas contra países vizinhos, especialmente Taiwan e a Índia.

Exercícios militares conjuntos da China, Rússia e Cazaquistão
Exercícios militares conjuntos da China, Rússia e Cazaquistão
Xi Jinping martela que a aliança entre a China e a Rússia está cada vez mais forte e que Pequim respaldará Moscou em caso de represálias econômicas do Ocidente pela invasão da Ucrânia e que confia no apoio de Moscou em eventuais conflitos bélicos no Mar da China.

Putin assinou em Shanghai um acordo sem precedentes para exportar gás russo à China .

Em outubro as marinhas de ambos países fizeram um exercício naval conjunto no Pacífico que concluiu provocando o Japão, aliado dos EUA.

China também envia periodicamente grandes formações de aviões de guerra contra Taiwan em simulacros alarmantes, e bombardeiros chineses e russos passaram a sobrevoar o Mar do Japão.

Em oposição, a VII Frota americana estacionada no Pacífico liderou inéditos exercícios navais com a participação de belonaves japonesas, britânicas, australianas e até alemãs.

O vice-almirante Karl O. Thomas, chefe da VII Frota, a maior do mundo, disse dispor de quatro grandes porta-aviões e suas enormes escoltas, mas que o perigo cresceu em tal dimensão que precisaria mais dois ou três desses porta-aviões para enfrentar a ameaça naval chinesa.

Incêndio nas costas de Putin


Enquanto, a Rússia preparava tudo para uma grande provocação, um inesperado incêndio se declarou nas costas do provocador: no Cazaquistão, a população se revoltou contra os procedimentos ditatoriais do governo herdado da União Soviética.

O estopim do mal-estar acumulado foi um aumento drástico do preço do gás, indispensável para os cazaques se aquecerem no rigorosíssimo inverno e como combustível para os carros.

As manifestações partiram para a violência nas grandes cidades, especialmente na maior de todas, Almaty e na capital agora rebatizada com o nome do ditador supremo Nursultan (antigamente Astana).

A repressão foi violentíssima com exército e polícia disparando com armas de guerra contra o povo e fazendo grande número de mortos e milhares de presos.

Mas os manifestantes não arredaram, invadiram prédios públicos e tocaram fogo neles. Ficou evidente que a ditadura pro-Putin não conseguia se sustentar e iria a cair.

Então, Putin enviou milhares de soldados e grande número de blindados para esmagar os oposicionistas, que o sistema russo denominava “terroristas” e “estrangeiros”.

A invasão provável da Ucrânia ficou atrapalhada. Putin está preso num sanduíche de violência por ele criado. Quando pretendia atacar a Ucrânia no Ocidente, no Oriente o Cazaquistão pegou fogo.

Os exércitos russos montados contra Ucrânia ficaram prensados no meio e foram desviados para invadir o Cazaquistão. Enquanto esse país estiver em fogo, a violência russa contra a Ucrânia está enfraquecida.

Os países ocidentais que apoiam Kiev perceberam a fraqueza estratégica em que ficou Putin.

Ucranianos no Brasil


No Brasil uma importante e representativa imigração ucraniana contribui admiravelmente para o progresso do País, plenamente integrada na vida nacional.

Entretanto, custa-nos entender por que o mundo poderia se engajar numa III Guerra Mundial pela Ucrânia que, forçosamente haveria de ser nuclear. Muitos pouco informados se perguntam porque esse engalfinhamento por esse país, tão longínquo e diferente.

Entretanto, há uma problemática na Ucrânia que é central para o catolicismo e o futuro do mundo Ucrânia é um país, grande, potencialmente muito rico, populoso operoso, central e cheio de história.

Certa vez, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira foi perguntado em concorrida reunião sobre a promessa de Fátima a respeito da conversão da Rússia, que até o momento não se efetivou. E ele respondeu:

“Muito sumariamente, onde vejo uma possibilidade mais saliente de conversão é na Ucrânia [N.R.: é o berço do mundo eslavo] pisada, mas revelando uma heroicidade na qual eu tenho uma certa esperança”. (19/5/90)

E ainda: “os ucranianos tiveram uma atitude de resistência feroz ao comunismo. De um modo geral sabia-se na Rússia que a Igreja Católica condenava o comunismo, e que a Igreja Cismática Russa não condenou o comunismo. O povo ucraniano ficou sofrendo lotando contra o comunismo, enquanto a igreja cismática estava de acordo com os opressores que produziam esse sofrimento.

“Isso desprestigiou muito aos cismáticos e elevou o prestígio da Igreja Católica. Quando se abriu a Cortina de Ferro os cismáticos anticomunistas perguntaram a seus chefes: ‘vocês o que é que são que apoiaram essa porcaria?’ De onde se abriram possibilidades de conversões em número, que pela afinidade étnica, cultural, litúrgica poderiam se espalhar pela Rússia adentro”.


Uma previsão histórica de um Papa fala nesse sentido também. Na beatificação de São Josaphat, grande apóstolo da reunificação dos ucranianos à Sede de Roma, o Papa Urbano VIII afirmou: “Por meio de vós, meus ucranianos, eu espero converter o Oriente” .

Então, a Ucrânia é o ponto por onde pode começar – se já não começou – a conversão da Rússia prevista em Fátima. Os inimigos de Nossa Senhora de todas as tendências de Moscou a Washington passando por Pequim, não querem saber disso e então tentarão tudo o possível para esmagar essa nobre nação.

Compreende-se então o furor do inferno contra essa nação e o desejo de exterminá-la ainda que seja ao preço de uma Guerra Mundial, antes de que se verifique todo o efeito das promessas de Nossa Senhora em Fátima.


Tropas russas vistas da Ucrânia - BBC News




Vídeos de redes sociais mostram atividade militar russa perto da Ucrânia




Uma invasão russa na Ucrânia?




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