domingo, 20 de janeiro de 2019

Russos duvidam sempre mais de Putin

Diminuição de apoio popular é o pior dos múltiplos índices negativos
Diminuição de apoio popular é o pior dos múltiplos índices negativos
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






O mal-estar com a situação na Rússia de Putin, alarma até seus mais fiéis adeptos. O chefe supremo do Kremlin não está convencendo como antes, nem mesmo fazendo exibição espalhafatosa de seu insincero cristianismo.

Em outubro (2018) Boris Tchernichov, vice-presidente do Comitê para a Educação e a Ciência no Parlamento russo, a Duma, comunicou essa preocupação ao Conselho dos Ministros, segundo matéria especial de “Le Figaro” de Paris.

Tchernichov é um deputado leal ao Kremlin e na denúncia nem mencionava o nome do presidente, mas todos entenderam que o problema minava o cerne do estado psicológico em que se apoia o dono do Kremlin.

Segundo o “Figaro”, o deputado putinista exemplificou com múltiplos casos de violência inaudita, arbitrária e até desumana de larga divulgação no país: pancadarias nas ruas, adolescentes matando uma anciã doente para transmitir o vídeo por redes sociais, etc.



A agressividade social superou todos os limites, mostrou Tchernichov, quem propôs como solução criar um orwelliano “ministério do Clima Psicológico”.

No dia seguinte à sua representação, o jovem de 18 anos Vladislav Rosliakov ingressou numa escola de Kertch, na Crimeia, massacrou vinte estudantes e feriu mais cinquenta.

Putin reagiu logo pondo a culpa na “globalização” ocidental, mas pouco se importou dos jovens mortos saindo logo para jogar hóquei, seu esporte preferido.

A máquina de propaganda oficial atribuiu a culpa da chacina ao “inimigo ucraniano”. Mas, nas redes sociais, a ideia dominante foi outra e está resumida na expressão “a gestão de Putin está semeada de milhares de cadáveres”.

Por sua parte, Lev Goudkov, diretor do instituto de inquérito Centro Levada fala do clima de tensão que tomou conta da sociedade russa, impregnada ela própria de frustrações, cóleras e incertezas.

Descontentes querem fim do 'czar' Putin
Descontentes querem fim do 'czar' Putin
“Reina um sentimento de indefinição que degrada a situação do país”, comentou o sociólogo.

Tamara Eidelman, professora de história numa escola moscovita que vive alertando seus alunos contra as “fake news”, aponta como culpada a retórica guerreira do regime.

Como exemplo, lembra que Putin recentemente falou da perspectiva de uma guerra nuclear e convidou o povo ao holocausto.

“Nós, enquanto mártires, disse o chefe do Kremlin, voltaremos a nos encontrar no paraíso, e aqueles que nos atacaram morrerão sem ter o tempo de se arrepender”.

As palavras do chefe do Estado russo parafrasearam qualquer fanático islâmico incitando ao suicídio para matar inimigos.

Mas a opinião pública russa não está para essas coisas. Há um refluxo da onda de exaltação patriótica que atingiu o auge com a anexação da Crimeia.

A população agora está muito mais preocupada com a carência de gêneros alimentícios que a ditadura não fornece.

O anunciou do governo de que a aposentadoria seria feita cinco anos mais tarde foi o estopim do múltiplas manifestações de descontentamento.

Ninguém ousava criticar Putin e ainda menos declarar num inquérito que não confia nele. Mas em setembro, só 39% dos russos declarou depositar confiança nele, contra 59% há exatamente um ano.

Uma outra enquete do Comité da Iniciativa Cidadã dirigido por um outro fiel do sistema, o ex-ministro de Finanças Alexei Kudrine, constatou que só 7% da população acha “prioritário” a “constituição de um Estado forte”, que há muito é leitmotiv oficial.

Pelo contrário, 80% dos russos exige antes de tudo “justiça social”.

Em termos mais precisos “Putin não cumpriu as promessas. Hoje envia mais dinheiro para a Crimeia que para as outras regiões. Lá as aposentadorias são mais elevadas. Não é justo”, pesteia Alexandre, um aposentado do norte do país.

O “Figaro” diz muito francesamente que a “aldeia Potemkin russa” está sendo consumida pelos roedores.

Na última eleição nacional na cidade de Vladimir, a 180 quilômetros de Moscou, a candidata Svetlana Orlova, uma zelota de Putin foi derrotada por um candidato desconhecido que jamais fez campanha. E isso malgrado o procedimento eleitoral ser “o mais falsificado de toda a história recente”, segundo a ONG Golos.

O candidato presidencial dissidente Alexei Navalny foi preso para não fazer sombra à 'triunfal' vitória de Putin
O candidato presidencial dissidente Alexei Navalny
foi preso para não fazer sombra à 'triunfal' vitória de Putin
No Centro de Segurança Social do bairro Leninski, a candidata ordenou a todos os funcionários telefonar para os dependentes de suas “bolsas” e serviços (aposentados, mães de família e inválidos) votar por ela. Quem não votasse ficaria sem “bolsa”, benefício ou emprego.

Em muitas escolas de Vladimir, explicou o ativista Igor Petrov, os maestros receberam 5.000 rublos em dinheiro vivo pelo voto. Numa outra o diretor ameaçou por na rua a quem não votasse em Orlova.

Nas escolas de Smolensk, onde faltam os livros escolares, funcionários levavam livros de uma escola a outra para que o inspetor chegando achasse que todas estavam bem providas pelo candidato do regime.

Nikolai Boulayev, vice-presidente da Comissão Eleitoral reconheceu de público e em própria pessoa a fraude das eleições gerais que renovaram a presidência de Putin e de seus aderentes mais próximos.

Boulayev, encarregado da lisura da votação, ameaçou os candidatos derrotados no escrutínio regional de Vladivostok que denunciassem os funcionários que entupiram as urnas para garantir a vitória do candidato putinista.

“Um pouco de honra, senhores!, pediu Boulayev. Nem todos os diretores de seções foram culpados. Eles foram forçados a isso. Se os Sres. apresentam queixa, eles vão perder o emprego e não poderão alimentar suas famílias”.

Mas, explica Igor Petrov, ativista de Vladimir, “as pessoas não podem viver eternamente no medo. Elas estão abrindo os olhos”.

A TV é estreitamente controlada pelo Kremlin e dita o “pensamento único”. Mas, hoje influencia cada vez menos a opinião pública.

Em agosto, os que acreditavam nas notícias veiculadas pela TV eram minoria. A audiência caiu brutalmente e a credibilidade ainda mais.

O último vídeo do opositor Alexei Navalny, preso porque podia ameaçar a vitória massacrante de Putin, foi assistido por mais de 5 milhões em YouTube.

Serguei Smirnov exigiu o confisco das redes sociais para evitar informações não conformes à vontade do dono do Kremlin
Serguei Smirnov exigiu o confisco das redes sociais
para evitar informações não conformes à vontade do dono do Kremlin
“As pessoas migram para a Internet por causa do monopólio público da informação e a ausência de alternativa”, analisa Lev Goudkov, do Centro Levada.

Segundo esse instituto, a desconfiança em relação às notícias econômicas é muito acentuada. “Eles querem nos enfiar goela adentro qualquer coisa, mas nós não somos imbecis”, tempesteia Tatiana Gavrilova, professora de russo que denuncia as “mentiras” espalhadas pela TV sobre o “nível de vida” dos cidadãos.

O Kremlin, entretanto, não muda para acalmar esse descontentamento. Após o massacre de Kertch, o diretor adido da FSB, polícia encarregada da repressão dos dissidentes, Serguei Smirnov, exigiu o confisco das redes sociais. Na mídia nacional, não faltam reclamações parecidas.

Ele exigiu que “o ciberespaço fique sob o controle das autoridades competentes”, porque sem isso “nós não poderemos garantir a segurança da informação”.

Leia-se garantir que só será difundido do que Putin ordena. Proibido pensar ou se informar de algo diferente.


2 comentários:

  1. Tomara que Putin tenha mesmo fim que teve Saddam Hussein e Muammar Khaddafi, por não respeitar tratados, e, soberania de outros países, além de ser culpado por milhares de mortes de inocentes.

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  2. A mim pertence a vingança e todo tipo de pagamento! No tempo certo os pés dessa gente começarão a escorregar, o dia da sua desgraça aproxima-se célere, e seu próprio destino se apressa sobre eles.’

    https://bibliaportugues.com/deuteronomy/32-35.htm
    Todos os tiranos desse planeta terão o mesmo merecido fim,sua segunda e última morte no o oceano amorfo de luz eletrônica onde não há vida.

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