domingo, 26 de junho de 2022

Putin explora globalização em crise e esfomea o mundo

Rússia bloqueia Mar Negro e empede escoamento da safra ucraniana
Rússia bloqueia Mar Negro e impede escoamento da safra ucraniana
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A invasão russa da Ucrânia ameaça muitas mais vidas das que já estão morrendo no campo de batalha.

E Vladimir Putin não dá sinais de se arrepender, apenas mostra vontade de tirar mais vantagens sobre os cadáveres de milhões de famintos, escreveu “La Nación”.

A guerra atingiu o sistema alimentar globalizado já estava enfraquecido pela pandemia. As exportações de grãos e oleaginosas da Ucrânia estão praticamente paradas, e as da Rússia estão sob controle devido a sanções.

Os dois países fornecem 12% das calorias consumidas pela humanidade.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, diz que o mundo “enfrenta o espectro de uma escassez global de alimentos” que pode durar anos. 1,6 bilhão de pessoas poderiam deixar de ter a alimentação básica garantida. E centenas de milhões de pessoas poderão cair na pobreza.

Putin usa cruelmente a comida como arma. A Rússia e a Ucrânia fornecem 28% do trigo comercializado em todo o mundo, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.

As exportações de alimentos da Ucrânia fornecem as calorias que alimentam 400 milhões de pessoas.

Mas a guerra interrompeu esses suprimentos porque a Ucrânia minou suas águas para impedir um ataque russo por mar e a Rússia bloqueia o grande porto de grãos de Odessa.

Mas isso não é tudo para fazer de 2022 um ano terrível. A China, maior produtora de trigo do mundo, prevê a pior safra de sua história. A Índia, o segundo maior produtor mundial, o cinturão de trigo dos EUA e o Chifre da África sofrem as piores secas em quatro décadas.

Grãos aguardam para sair do porto de Odessa
Grãos aguardam para sair do porto de Odessa
Tudo isso afetará seriamente os pobres em regiões remotas. As famílias dos países emergentes gastam 25% de sua renda em alimentos, e esse número sobe para 40% na África Subsaariana.

No Egito, o pão é responsável por 30% da ingestão calórica das pessoas. E em muitos países importadores de alimentos, os governos não podem se dar ao luxo de aumentar os subsídios de ajuda aos pobres, especialmente se eles também são importadores de energia, outro mercado em crise.

Na Ucrânia os produtores não têm onde armazenar a próxima safra, falta combustível e mão de obra para o próximo plantio. A Rússia carece de sementes e pesticidas que compra da União Europeia.

A pandemia e a guerra atingiram a globalização, ou interdependência planetária, que era apresentada como uma maravilha do progresso da humanidade e que pôs de lado a sociedade orgânica de séculos anteriores.

Faltam fertilizantes, energia, gás natural, e 23 países impuseram restrições draconianas às suas exportações de alimentos que ameaçam parar o comércio internacional.

Todos acusam a todos: uns aos outros: o Ocidente culpa a Putin e ele responsabilizam as sanções ocidentais.

Em 2021, a China importou 28 milhões de toneladas de milho para alimentar seus porcos cujo número caiu de metade.

É mais do que toda a Ucrânia exportou em um ano, o que sobrará para os pobres humanos?


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