domingo, 3 de novembro de 2024

Putin persegue, sequestra e mata opositores fora da Rússia

Lilia Yapparova não acreditava que Putin fosse tão ruim. A descoberta da verdade foi sinistra
Lilia Yapparova não acreditava que Putin fosse tão ruim.
A descoberta da verdade foi sinistra
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Lilia Yapparova, jornalista que escreve sobre a Rússia desde a Letônia para jornais americanos, foi aconselhada a não comprar comida pela Internet.

Ela achou exagerado mas levou a sério quando, apenas um mês depois, sua colega Elena Kostyuchenko foi envenenada na Alemanha, em tentativa de assassinato cometida pelo estado russo.

Sua reportagem foi publicada pelo “The New York Times”. “Putin Is Doing Something Almost Nobody Is Noticing” (“Putin faz coisas que quase ninguém percebe”)

Lilia conta que fatos como esses se tornaram rotina.

Em 2023, a jornalista investigativa Alesya Marokhovskaya, foi assediada na República Tcheca; e o corpo de Maxim Kuzminov, desertor russo, apareceu na Espanha crivado de balas. O Kremlin estava envolvido nos casos.

As figuras da oposição russa, acresce Lilia, sabem muito bem que, mesmo no exílio, continuam sendo alvos dos serviços de inteligência da Rússia.

Há também centenas de milhares de russos que abandonaram o país porque não queriam ser recrutados à força para a invasão de Ucrânia ordenada por Putin. Eles também são vigilados ou sequestrados.

Maxim Kuzminov não queria a guerra e abandonou seu helicóptero. Apareceu ametralhado na Espanha
Maxim Kuzminov não queria a guerra e abandonou seu helicóptero.
Apareceu metralhado na Espanha
A repressão acontece longe dos holofotes da grande mídia e, muitas vezes, com o consentimento tácito ou a prevenção inadequada dos países onde se refugiaram.

É uma coisa assustadora, diz Lilia: o Kremlin está caçando pessoas comuns em todo o mundo, e ninguém parece se importar e poucos ativistas de direitos humanos os ajudam.

Um fonoaudiólogo preso pelo governo “amigo” do Cazaquistão a pedido de Moscou que enlouqueceu em uma prisão local.

Um cuidador de idosos foi preso pela Interpol em Montenegro por ordens russas.

Uma professora foi detida por guardas na fronteira com Armenia após falar a seus alunos sobre os atrozes crimes dos soldados russos em Bucha, Ucrânia.

Um dono de loja de brinquedos, um alpinista industrial, uma roqueira punk: esses são outros casos pegos na rede do Kremlin, em todo o mundo.

No Reino Unido, os exilados que assistem a eventos anti-Putin em Londres percebem agentes “que se destacam facilmente em meio ao público”, segundo Ksenia Maximova, ativista anti-Kremlin.

Elena Kostyuchenko ama a Rússia. Criticou a Putin e a comida comprada na Internet estava cheia de veneno
Elena Kostyuchenko ama a Rússia. Criticou a Putin
e sua comida comprada na Internet chegou cheia de veneno
Oficiais de inteligência russos monitoram as diásporas na Alemanha, Polônia e Lituânia, diz Evgeny Smirnov, advogado especializado em casos de traição e espionagem.

Já houve emigrados russos perseguidos e ameaçados em Roma, Paris, Praga e Istambul.

Alguns métodos são pérfidos, escreve Lilia. Lev Gyammer, ativista exilado na Polônia, recebe mensagens de texto há dois anos, de sua mãe muito aflita pela sua ausência e que clama por seu retorno. Só que a mãe de Lev, Olga, morreu há cinco anos.

Outro expatriado russo na Finlândia cujos pais são muito idosos e doentes acreditou no telefonema da cuidadora sobre um incêndio no apartamento dos pais.

Ele foi correndo e acabou sendo levado para a prisão e torturado. Nunca houve incêndio nenhum, foi enganação mortal da polícia secreta.



domingo, 20 de outubro de 2024

Padres católicos presos e torturados pelos russos como na era comunista

Padres Ivan Levitsky e Bohdan Geleta, fotografados ainda em prisão russa
Padres Ivan Levitsky e Bohdan Geleta, fotografados ainda em prisão russa
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Os padres católicos ucranianos redentoristas Ivan Levitsky e Bohdan Geleta reapareceram em imagens publicadas pela Igreja Greco-Católica Ucraniana (IGCU).

Segundo essa fonte, as fotos foram obtidas quando os dois sacerdotes ainda estavam detidos numa prisão russa, informou o “Catholic Standard”.

Os sacerdotes foram presos por soldados russos em Berdyansk, na Ucrânia, em novembro de 2022, e recentemente foram libertados, segundo anunciou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em junho de 2024.

O padre redentorista Bohdan Geleta contou na Zhyve TV, canal de televisão da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que ele e seu colega redentorista, o Pe. Ivan Levitsky, tiveram sua paróquia Igreja da Natividade do Santíssimo Theotokos em Berdyansk, invadida por soldados russos que os levaram pela força.

A Igreja Católica nunca soube onde estavam reclusos nem as condições exatas em que viviam durante a maior parte dos 18 meses de cativeiro, mas reapareceram muito emagrecidos e com a cabeça rapada numa troca de prisioneiros.

O Pe. Geleta confirmou que foram sujeitos a tortura psicológica e física segundo informou o Arcebispo-mor católico ucraniano Sviatoslav Shevchuk.

Após a ocupação russa da cidade, os dois sacerdotes continuaram celebrando a Divina Liturgia, rezando e acolhendo refugiados, disse o Pe. Geleta.

No entanto, um carro marcado com a letra “Z”, símbolo das tropas invasoras na Ucrânia, circundou ameaçadoramente a Igreja “diversas vezes” até que prenderam o Pe. Geleta que se preparava para celebrar a Divina Liturgia, e o Padre Levitsky que ia para uma reunião de oração ao ar livre.

Os militares entraram na igreja mascarados e armados e ordenaram irem com eles sem outra explicação senão a ameaça dos fuzis.

O Pe. Geleta tirou os paramentos e foi levado para o local de detenção preventiva central em Berdyansk.

Foram acusados de não terem pedido autorização às autoridades para rezar na cidade. A acusação é típica das forças de ocupação russas na Ucrânia.

Essas suprimem todas as religiões, exceto os ‘popes’ obedientes ao Patriarcado de Moscou que servem aos ditadores do Kremlin.

Os russos destroem casas de culto, prendem, torturam e matam clérigos e estabeleceram leis para restringir a prática religiosa que não sirva à propaganda de Putin.

Na região de Zaporizhia, os ocupantes proibiram a Igreja Católica, os Cavaleiros de Colombo e a Caritas, braço humanitário oficial da Igreja Católica mundial.

O Pe. Geleta e o Pe. Levitsky, foram mantidos separados em celas úmidas onde “podiam ouvir gritos provenientes dos corredores”, enquanto os prisioneiros eram torturados.

Um companheiro de cela do Pe. Geleta levou choques elétricos e foi obrigado a aprender o hino nacional russo, sob ameaça de execução.

Os carrascos queriam que os padres cooperassem com a polícia política de Putin, a FSB, que tenta recrutar líderes religiosos para torná-los propagandistas do domínio da Rússia nas zonas ocupadas da Ucrânia.

“Mas nós recusámos”, disse o Pe. Geleta.

Os inquisidores “não gostavam da palavra ‘guerra’”, preferindo o eufemismo do Kremlin, “operação militar especial”, para descrever os seus ataques à Ucrânia.

Esse é um capricho de Putin, mas a invasão foi qualificada até genocídio, segundo grandes relatórios do New Lines Institute e do Centro Raoul Wallenberg para os Direitos Humanos.

Os raptores acusaram falsamente os padres de armazenarem armas na sua Igreja, pelo que seriam julgados e condenados a 25 anos de prisão.

Foram então transferidos para a colônia penal russa n.º 77 em Berdyansk.

O Pe. Geleta foi trancado numa cela solitária com um alto-falante que “tocava canções soviéticas durante o dia todo. Nessa altura, percebi como é que uma pessoa enlouquece, percebi porque é que as pessoas se suicidam”, disse ele.

“O Senhor Deus ajuda e dá força através da oração. Deus, Jesus Cristo, Maria e os anjos estavam todos presentes. A oração era a salvação. E, como eu estava a dizer, senti a oração da Igreja”.

Os padres foram transferidos algemados e vendados, com sacos na cabeça para outra colônia penal em Horlivka, Donetsk, onde os prisioneiros eram “maltratados quase todos os dias (…) a admissão era muito terrível, muito cruel”, disse o religioso.

Os combatentes do regimento Azov da Ucrânia e os civis que desafiaram a ocupação russa de Mariupol foram “lá muito maltratados”, contou.

Os padres (com a bandeira ucraniana) apenas libertados de prisões e torturas recebidos pelo Núncio Apostólico
Os padres (com a bandeira ucraniana) apenas libertados de prisões e torturas
recebidos pelo Núncio Apostólico
Os padres foram abusados várias vezes. “O Pe. Ivan foi espancado tão severamente que perdeu a consciência duas vezes”, lembrou o padre Geleta.

Durante as torturas o sacerdote “lembrou-se de Jesus Cristo, da Sua Cruz, do Seu sofrimento. “E foi uma força e uma graça tão grandes que eu dizia: Senhor, eu posso sofrer contigo”, disse ele.

Ele e o Pe. Levitsky partilharam a mesma cela durante apenas 15 dias dos 10 meses de prisão em Horlivka, onde estavam detidos cerca de 2.000 prisioneiros de guerra.

“Tivemos a oportunidade de conhecer muitas pessoas” que “contaram-nos muitas coisas e estavam à procura de ajuda espiritual”, acrescentou o Pe. Geleta.

No cárcere, o sacerdote organizou reuniões de oração de manhã e à noite, lendo a Bíblia e recitando o Pai-Nosso e a Ave Maria pelas intenções dos prisioneiros.

Também pôde ouvir confissões e sentiu que “toda a Igreja” rezava pela libertação dos sacerdotes.

Os russos consideram os católicos da Igreja Greco-Católica Ucraniana como “uma seita que se separou da Ortodoxia” pelo que os seus sacerdotes devem ser “erradicados, isolados da sociedade e purificados”.

Católicos assistindo Missa nas jornadas da Praça Maidan
Católicos assistindo Missa nas jornadas da Praça Maidan
Os captores louvam a Deus segundo os ritos da ‘igreja ortodoxa russa’ enquanto batem nas pessoas. “É um fanatismo religioso.”, contou o sacerdote.

“Sofremos e carregámos esta cruz com os prisioneiros que lutaram por uma Ucrânia livre, para estar perto de Deus, da salvação do Senhor”, disse.

O Pe. Geleta exortou às famílias, mães, esposas, que têm filhos, pais e irmãs em cativeiro, a não perderem a esperança, que rezem, que se voltem para Deus.

“O Senhor Deus através destes sofrimentos conduz todos até Si. Caso contrário, uma pessoa poderia não suportar aquilo”, explicou o sacerdote torturado, mas no fim libertado.



domingo, 6 de outubro de 2024

Milhares de recrutas russos sem treino militar se rendem

Rendição de milhares de conscritos russos é uma dor de cabeça para Putin
Rendição de milhares de recrutas russos é uma dor de cabeça para Putin
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Mais de 300 jovens recrutas russos foram interrogados numa prisão ucraniana visando sua troca por prisioneiros ucranianos cativos dos invasores. O jornal americano “The New York Times”, assistiu à cena e a relatou.

Eles tinham um rosto jovial e corpos delgados. A batalha que perderam e em que ficaram prisioneiros na região de Kursk foi a primeira de suas jovens vidas.

O “New York Times” os menciona só pelo primeiro nome para garantir sua segurança caso sejam devolvidos à Rússia. O simples fato de ter falado diante de repórteres americanos poderia lhes custar excessivamente caro voltando ao despotismo putinista.

Na prisão ucraniana viviam deitados em beliches ou sentados em bancos de madeira, assistindo a desenhos animados numa televisão fornecida pelo carcereiro. De fato, pareciam nunca ter saído de casa.

Vasily, capturado no início da incursão ucraniana na Rússia contou que o único que ele e seus colegas pensaram foi em fugir e se esconder num arvoredo onde foram capturados ingenuamente por astutos ucranianos.

Os jovens soldados nas entrevistas descreveram como se tinham rendido ou abandonado as suas posições espantosamente desorganizadas.

Conscritos russos en Kursk mal conseguiam combater sem treino nem armas, com oficiais incompetentes
Recrutas russos em Kursk mal conseguiam combater
sem treino nem armas, com oficiais incompetentes
Vasily disse: “nunca pensei que isso fosse acontecer”, referindo-se ao ataque ucraniano.

O comando militar russo parecia ter achado que nunca ocorreria o que aconteceu e instalou nas defesas fronteiriças recrutas inexperientes, alguns com poucos meses nas filas.

Não houve sangrentas lutas: os recrutas abandonaram as suas posições percebendo que acontecia o nunca imaginado e que sua inferioridade em número e armas era grande demais.

A lei proíbe enviar recrutas para fora da Rússia e o exército, com falta de combatentes treinados, utilizou os jovens ignorantes para proteger a fronteira.

Na Rússia, os recrutas são enrolados após o ensino médio para tarefas braçais, como remover neve de bases.

Os soldados, porém, devem ser voluntários e são contratados, sendo melhor pagos e hoje suportam o peso das guerras na Síria e na Ucrânia.

Foi assim que sem muita dificuldade que os ucranianos que capturaram centenas de jovens numa semana e meia.

A prisão ucraniana de Sumy, já interrogou 320 prisioneiros de guerra, 80% deles recrutas, antes de serem enviados para mais longe dos combates, amontoados em celas no porão, onde estão protegidos de possíveis ataques aéreos.

Eles usavam moletons, camisetas e shorts que seus captores lhes haviam fornecido. Alguns tinham ferimentos de estilhaços ou balas.

Com os olhos arregalados e aparentemente desorientados, observaram enquanto os guardas escoltavam os jornalistas até às celas para entrevistá-los.

Eles foram estacionados em pelotões de 30 em fortes de concreto ou terra a pouco menos de 2 quilômetros ao longo da fronteira. Lá eles fugiram com presteza, segundo testemunhas.

Os recrutas russos prisioneiros narraram condições penosas no exército russo
Os recrutas russos prisioneiros narraram condições penosas no exército russo
A bem dizer, eles não estavam interessados em dar a vida por Putin.

A população recebeu alimentos e ajuda humanitária dos ucranianos e Moscou mandou deportar a 200.000 cidadãos russos, parecendo desconfiar da simpatia desses pelos ucranianos.

Igor, um jovem magro de 21 anos contou: “informamos os comandantes, mas eles não reagiram”. Então concluíram que “não podemos fazer nada” e se refugiaram numa fortificação que logo pegou fogo.

A corrupção no exército russo, objeto de continuados expurgos, consumiu os recursos para reforçar as defesas fronteiriças junto à Ucrânia.

O grupo de Igor tinha apenas um rifle sem recuo com o qual nunca foram capazes de acertar os veículos de combate Bradley ucranianos fornecidos pelos EUA. O rifle disparava, mas o cano estava torto e o tiro saia na direção errada.

Sergei, de 20 anos, é do vale do rio Volga, contou que o líder do seu pelotão de 28 soldados ordenou uma retirada caótica. Refugiaram-se numa casa da cidade, até que chegaram os soldados ucranianos.

A reação foi unânime e o líder do pelotão gritou pela janela: “Há recrutas aqui. Queremos nos render.”

Dmitry, 21 anos, do norte da Rússia, disse que seus rádios pararam de funcionar no dia que, segundo lhes tinham dito, nunca viria o inimigo.

Os ucranianos descreveram uma defesa russa fraca e desorientada.

E os recrutas do “segundo maior exército do mundo” continuam a ser capturados.

Bradley ucraniano avança celeremente dentro da Rússia
Bradley ucraniano avança celeremente dentro da Rússia.
Ucranianos ficaram surpresos pela fraqueza das defesas russas
As perdas de jovens soldados ucranianos recrutados pela URSS para as guerras no Afeganistão e na Chechênia tinham causado descontentamento generalizado.

Agora, famílias perturbadas organizaram protestos semanais em Kiev, a capital ucraniana, para chamar a atenção para seus entes queridos detidos. A Rússia não revela o número de ucranianos que capturou, mas presume-se que há mais ucranianos do que russos.

A chegada dos recrutas presos deixou felizes as famílias de soldados ucranianos detidos na Rússia pois poderá haver um intercâmbio de prisioneiros mais numeroso.

Exemplo típico é Tetyana Vyshnyak que tem um filho capturado e condenado a 22 anos de prisão russa.

Havia pouca esperança de que ele fosse libertado, mas agora, disse ela, “para todos nós, esta é uma grande oportunidade e esperamos que nossos entes queridos sejam redimidos”.

Valeria Subotina, ex-assessora de imprensa do Regimento Azov, passou 11 meses em cativeiro russo antes de uma troca em 2023, disse: “espero que a operação na região de Kursk possa mudar isto”.

Soldados russos protestam contra o 'trato animalesco' que recebem dos oficiais
Soldados russos protestam contra o 'trato animalesco' que recebem dos oficiais
Acresce que os ucranianos presos na guerra são maltratados, torturados, forçados a trabalhos esgotadores, e até assassinados nos campos de concentração russos, contra todas as normas internacionais sobre o trato dos prisioneiros de guerra.

Putin acena com recrutar números mirabolantes de jovens ou operários nessas condições, mas não há tempo para lhes dar treino militar.

Além do mais carece angustiantemente de uniformes, armas, veículos, combustíveis e fornecimentos para sustentá-los.

Agora precisa tirar soldados profissionais da Ucrânia para conter a invasão de seu território pelos ucranianos que jamais imaginaram encontrar uma resistência tão fraca.

domingo, 15 de setembro de 2024

Expurgo de generais russos porque a guerra vai mal

Facilidade com que drones destroem caríssimos depósitos russos é atribuída a desvio de verbas na construção
Facilidade com que drones destroem caríssimos depósitos russos
é atribuída a desvio de verbas na construção
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Os insucessos e/ou parcos sucessos daquela que foi acreditada como “segunda potência militar do mundo” na invasão da Ucrânia desencadearam crises de desconfiança no próprio coração de Moscou.

Esfuma-se dia após dia a aura de ditador intocável de iniciativas invencíveis que envolvia a Vladimir Putin.

Esse então passou a recorrer ao terror e à eliminação de seus mais próximos auxiliares, caprichosamente tidos em suspeição de traições com que sonham os ditadores em desgraça.

O vice-ministro de Defesa a cargo da logística militar durante quase 15 anos Dimitri Bulgakov, fora demitido em setembro de 2022.

Agora foi detido pela polícia secreta de Putin, a FSB, sucessora da KGB, e posto na prisão de Lefortovo, em Moscou, onde gemem detidos altos funcionários e dissidentes que caíram no malestar do dono do Kremlin, informou “El Mundo” de Madri.

O ex-comandante militar é a enésima vítima de alto perfil na purga incessante que Putin conduz entre os principais comandantes do país tentando achar um bode expiatório para o mal andamento da guerra de invasão da Ucrânia.

A FSB é seu grande braço de execução, acentuando o papel dos serviços secretos na tentativa de reverter os maus resultados russos na guerra.

O Kremlin quer mais eficiência na frente de combate passando por cima até da prioridade anterior que era a da lealdade ao ditador ainda que atropelando qualquer moral ou realidade.

O organograma militar estava definitivamente abalado desde que Putin demitiu o anterior ministro da Defesa, Sergei Shoigu, amigo pessoal do líder russo, substituindo-o por um economista, o tecnocrata Andrei Belousov.

Explosão do novíssimo míssil intercontinental 'Satan II' também atribuída a falhas de oficiais corruptos
Explosão do novíssimo míssil intercontinental 'Satan II'
também atribuída a falhas de oficiais corruptos
Assim que foi nomeado, Belousov iniciou uma limpeza no Ministério e no Estado-maior que abalou a cabeça das forças armadas russas.

Os altos funcionários amigos do antigo ministro da Defesa foram despedidos ou presos, em geral acusados de corrupção e suborno.

Entre eles, o vice-ministro Temur Ivanov, que supervisionava as construções do Ministério da Defesa. A corrupção e desvios de verbas eram segredos a vozes no Exército Vermelho e quando a frente de combate continuou enviando notícias que não eram as que Putin queria, os que seriam condenados já estavam escolhidos.

O caso de Ivanov é paradigmático, segundo “El Mundo”.

Supervisionar as construções do Ministério da Defesa russo era uma das posições mais lucrativas na Rússia: onde milhões são ganhos com o peculato de recursos públicos.

A bem dizer, até o próprio Putin é acusado a boca pequena de fantásticos desvios de capitais, bem aplicados no Ocidente.

Mas, ai de quem falar forte!

A Rússia está se preparando para uma guerra longa e custosa e não quer perder um único rublo (menos os que estão no meu bolso, diriam alguns).

A máquina estatal russa, durante anos funcionou na base da corrupção, a serviço da ideologia mais corrupta da História.

O enriquecimento ilícito consolidava as lealdades sem mecanismos de controle.

Enquanto foi possível anunciar o feliz desenvolvimento do plano do ditador que devia se concluir em três dias de uma vitória relâmpago, malgrado estivessem passando meses e anos, tudo corria bem, porque assim Putin queria.

Mas quando as notícias reais da guerra ficaram indissimuláveis se acenderam tétricas luzes em alguns escritórios.

Bulgakov foi logo responsabilizado pelas falhas logísticas do exército russo, difíceis de acreditar de tão monstruosas.

As tropas russas estavam gravemente sub-abastecidas e os avanços de Moscou se retardavam.

Pior ainda foi quando os ucranianos invadiram a própria Rússia sem encontrar uma defesa eficaz.

Andrey Belkov, chefe da empresa de construção militar no Ministério da Defesa russo, também foi preso por abuso de poder.

O combate à corrupção no exército foi a oportunidade para os serviços de segurança se vingarem dos militares, segundo explicou o analista Giorgi Revishvili, antigo conselheiro do Conselho de Segurança da Geórgia.

Vladimir Verteletsky, chefe do departamento de compras de defesa do Ministério da Defesa foi preso em maio.

E no mesmo mês, Vadim Shamarin, vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas acusado de suborno.

O novo Ministro da Defesa, marca pontos ante Putin com purgas que enterram a era Shoigu mas ali não se decide a guerra na Ucrânia.

O imenso arsenal de Tver 'a prova de bombas atómicas' destruído por drones fora mal feito por corrupção
O imenso arsenal de Tver 'a prova de bombas atômicas'
destruído por drones fora mal feito por corrupção
O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov proclamou aos jornalistas em maio que a luta contra a corrupção “é um trabalho contínuo”.

Na guerra o chefe do Estado-maior deve dirigir as operações na frente, garantir que nada falte aos combatentes.

Mas, com as purgas putinistas, ele deve se concentrar contra os inimigos da retaguarda instalados em ministérios e comandos militares. Pelo menos, até não cair ele próprio.

Agora o grande objetivo é racionalizar a produção militar para uma longa guerra – sim, aquela que está anunciada para ser ganha nos primeiros três dias.

Ela só poderá ser decidida aumentando a produção industrial militar ainda que custe a fome dos civis.

Produzir mais armas e mais munição mais rápido enquanto chovem os drones ucranianos sobre Moscou e pegam fogo as refinarias de petróleo e gás não é nada fácil.

Putin visitou os países amigos – os “países bandidos” – para implorar armas e munição, de péssima qualidade, aliás.

Muitas teriam virado fumaça nos recentes bombardeios de drones ucranianos a grandes depósitos de armas.



domingo, 18 de agosto de 2024

Descalabro das forças armadas russas

Fotos de satélite mostram bases russas vazias perto da fronteira com a Finlândia
Fotos de satélite mostram bases russas vazias perto da fronteira com a Finlândia
Luis Dufaur
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O ministro da Defesa norueguês, Eirik Kristoffersen, garantiu que as forças terrestres russas estacionadas na Península de Kola, fronteira com a Noruega e a Finlândia, foram “dizimadas” pelas pesadas perdas sofridas na Ucrânia, divulgou o jornal francês “L’Independant”.

O descalabro ficou patente com a surpreendente facilidade com que o exército ucraniano está entrando na região russa de Kursk e se abrindo, eventualmente, caminho para Moscou.

Um jornal finlandês assegura que as guarnições e bases militares russas perto da fronteira com a Finlândia estão quase vazias. Quase todas as forças terrestres de Moscou, outrora estacionadas na área, foram enviadas para a Ucrânia.

As imagens de satélite recentes confirmam forte redução no número de tropas e equipamentos ao longo da fronteira com a Finlândia.

“Em média, 80% do equipamento e dos soldados foram transferidos para a Ucrânia”, relata uma importante fonte da inteligência militar finlandesa.

Também várias bases russas de remotas regiões russas sofreram diminuições pesadas. Só Moscou ainda conserva intacta suas tropas de defesa. A insegurança de Putin e os rumores de rebeliões militares o justifica.

As perdas na Ucrânia foram tão grandes que segundo os serviços de inteligência, a Rússia levará de 3 a 5 anos para restaurar a capacidade de combate das suas forças armadas.

A mais recente estimativa da inteligência britânica estima que o invasor perdeu 70.000 homens, entre mortos e feridos, nos meses de maio e junho de 2024, segundo “Le Monde”.

Putin tenta assustar Ocidente ameaçando com uma Terceira Guerra Mundial, mas na realidade as ameaças verbais são cortinas de fumaça para dissimular sua fraqueza. A Rússia não tem com o que fazer a guerra que acena.

Um terço do total da marinha russa não está mais operativa. A perda foi puxada pelo afundamento de um terço da frota russa no Mar Negro.

Bases militares russas esvaziadas na fronteira com a Finlândia
Bases militares russas esvaziadas na fronteira com a Finlândia
Vários navios emblemáticos foram afundados ou danificados na base da Crimeia em Sebastopol, a ponto de a Rússia enviar os seus navios para outros portos mais afastados da área de combate, escreveu ainda o “L’Independant”.

Essa retirada foi principalmente para Novorossiysk. “Eles podem pensar que seus navios estão mais seguros lá, mas a maioria se esconde atrás de navios civis”, disse o porta-voz da marinha ucraniana, Dmytro Pletenchuk. Realmente uma estratégia muito pouco decorosa para uma marinha de guerra.

Pletenchuk sustenta ainda que “um terço dos navios da flota russa do Mar do Norte está definitivamente inutilizável, foi destruída ou danificada”.

Por sua vez, o vice-almirante americano aposentado Mike LeFever declarou à revista “Newsweek”: “víamos a marinha russa como algo grande e poderoso, mas agora ver a Ucrânia dizimá-la sem uma marinha real e com navios não tripulados é significativo de mais”.

A sensação de degringolada da marinha russa foi aumentada por um fato misterioso. Um grande navio russo especializado em neutralizar submarinos, o ‘Almirante Levchenko’, incendiou-se no Mar de Barents, que faz parte do oceano Glacial Ártico.

E tudo indica que a tripulação a bordo não foi salva, noticiou a mídia polonesa Geekweek.

Este mesmo meio de comunicação indica que haveria várias centenas de tripulantes a bordo do navio desaparecido, escreveu o “Huffington Post”.

A catástrofe aconteceu nos mares árticos russos, muito longe do Mar Negro. A Rússia costuma disfarçar suas perdas navais atribuindo-as a acidentes a bordo e nunca a sucessos misseis ou drones do adversário.

Neste caso, guardou enigmático silencio, enquanto o porta-voz das Forças Armadas Ucranianas comentou com uma ponta de ironia: “é o que acontece quando uma ‘superpotência’ recebe sanções e não consegue reparar os motores de seus barcos. Dez anos não foram suficientes para resolver este problema. Uma das instalações pegou fogo”, anunciou.

Estoques de armamento estão se esgotando. No 'desfile da vitória' Putin fez desfilar um só tanque e da II Guerra Mundial
Estoques de armamento estão se esgotando.
No 'desfile da vitória' Putin fez desfilar um só tanque e da II Guerra Mundial!

Os ucranianos não admitiram ter participado no ataque ao navio russo.

Recentemente, porém, as forças especiais ucranianas provocaram um incêndio no navio de guerra russo ‘Serpukhov’, que estava ancorado na região de Koenigsberg, Mar Báltico, segundo os mesmos meios de comunicação.

O ‘Almirante Levchenko’ é um destróier soviético de mísseis guiados do projeto 1155 (classe Udaloy), oficialmente classificado como um grande navio anti-submarino. A unidade estava ativa desde 1988 na Frota do Norte.

Seu armamento principal torpedos de diversos modelos, mísseis e lançadores múltiplos de cargas de profundidade, além de canhões de uso universal e canhões guiados por radar.



domingo, 16 de junho de 2024

80 anos após o “Dia D”, Putin é o novo Hitler e a Ucrânia é o local do embate decisivo

Putin é o novo Hitler e a Ucrânia é o local da batalha decisiva.
Putin é o novo Hitler e a Ucrânia é o local da batalha decisiva.
Luis Dufaur
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O 80º aniversário do “Dia D”, ou desembarco de Normandia, que determinou o rumo final da II Guerra Mundial, foi ocasião de grandes comemorações oficiais na Europa. As festividades, entretanto, vieram carregadas de graves presságios.

Convergiram na França os chefes dos Estados especialmente engajados naquele tremendo episódio bélico.

Eles fizeram sonoros discursos entre os quais se destacou o do Joseph Biden, presidente dos EUA, a potência que mais engajou homens e armamentos em 6 de junho de 1944 e que ainda possui as maiores forças armadas do planeta.

Nas praias da Normandia, Biden fez um paralelismo entre a situação europeia de 1944 em que Hitler tentava submeter a Europa e a situação atual em que seu êmulo na invasão totalitária Vladimir Putin ameaça o continente começando pela Ucrânia.

O presidente americano apelou aos aliados para ajudarem a Ucrânia a derrotar “um tirano determinado a dominar” se referindo a Putin.

Segundo registrou a FoxNews, Biden vinculou diretamente a luta contra a Alemanha nazista aos combates na Ucrânia que vêm acontecendo desde a invasão em grande escala da Rússia em fevereiro de 2022.

“O isolacionismo não era a resposta há 80 anos e não é a resposta hoje. A Ucrânia foi invadida por um tirano determinado a dominar”, disse.

Biden sublinhou que 350 mil soldados russos foram mortos ou feridos no conflito, enquanto que quase 1 milhão de pessoas “deixaram a Rússia porque ali não conseguem mais ver um futuro”.

“Não iremos embora, continuou. Porque se o fizermos, a Ucrânia será subjugada e toda a Europa será ameaçada... os autocratas do mundo estão observando atentamente para ver o que acontece na Ucrânia, para ver se deixamos passar esta agressão ilegal. Curvar-se aos ditadores é simplesmente impensável”, concluiu.

Acima: concentração de blindados russos previa à invasão. Embaixo: desembarco americano na praia 'Omaha' em 1944
Acima: concentração de blindados russos previa à invasão.
Embaixo: desembarco americano na praia 'Omaha' em 1944
Do outro lado da linha de combate, Putin ordenou treinos para a eventualidade de usar armas nucleares
. Os temores se amplificaram obviamente.

De todas partes chovem noticias belicistas alarmantes. Por exemplo, Anne Kest-Butler, diretora da Sede de Comunicações do Governo Britânico (GCHQ), um dos principais centros de inteligência do mundo, alertou no primeiro discurso após assumir o cargo que a Rússia prepara “ataques físicos” contra o Ocidente, noticiou “El Mundo” de Madrid.

Moscou contaria com a colaboração de grupos locais dispostos a “operações de sabotagem”, “vigilância” e “ataques cibernéticos” dentro dos países europeus.

As declarações do chefe da ‘ciberinteligência’ britânica surgem na sequência da sabotagem contra fábricas de armas e armazéns de munições em vários países europeus.

"A Rússia está fazendo atos de sabotagem por toda Europa" ("Valeurs Actuelles", Paris, 8-6-24).
"A Rússia está fazendo atos de sabotagem por toda Europa"
("Valeurs Actuelles", Paris, 8-6-24).
Os ataques foram acompanhados das detenções de espiões russos na Alemanha e na Polônia, acusados de planejar ataques contra instalações militares dos EUA.

“A Rússia acha que está em conflito com o Reino Unido e com os países ocidentais”, alertou o deputado conservador Bob Seely, da comissão parlamentar de relações exteriores.

“Algumas ações parecem obra de amadores, outras são mais sofisticadas. Tudo faz parte da máquina de propaganda de Putin para responder ao Ocidente e testar as suas forças de segurança”, acrescentou o especialista em Rússia.

Anne Keast-Butler sublinhou também as ligações de Moscou com “grupos favoráveis” no continente (alguns deles ligados à extrema direita) para lançar ‘ataques cibernéticos’, realizar trabalhos de vigilância e “em alguns casos coordenar ataques físicos contra o Ocidente”.

Numa conferência CyberUK em Birmingham, Anne Kest-Butler esclareceu que o risco encarnado por Pequim é de “longo prazo”, comparado com o “perigo iminente” representado pela Rússia.


domingo, 19 de maio de 2024

Rússia comanda desinformação contra a família real britânica

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








A grande mídia não dá trégua à família real britânica despejando a seu propósito toda classe de boatos que transparecem uma visceral antipatia pelo regime monárquico ainda portador de intenso simbolismo medieval.

A bem dizer se assanha contra ela por qualquer coisa, verdadeira ou falsa, observou o jornal portenho “La Nación”.

Depois se rasgarem as vestimentas por uma fotografia retocada da princesa Kate e dos seus filhos, o rei Carlos III foi alvo de uma campanha de desinformação que o declarou morto com certeza originada em meios de comunicação russos.

Essas notícias falsas se espalharam como um incêndio, forçando o Palácio de Buckingham a negá-las. Mas de onde provinha esse ataque global?

Nada mais e nada menos que da Rússia, onde Putin há muito tem funcionando um verdadeiro exército produtor de fake news para semear o caos mental em Ocidente.

Os chefes a seu serviço explicam que estão incumbidos de tocar uma verdadeira guerra psicológica deturpando as informações, passo prévio para desorganizar o “inimigo” e preparar uma futura conquista política ou militar.

Neste casso, os boatos para desmoralizar a coroa britânica se aceleraram exponencialmente depois de serem publicados na rede social Telegram e serem reproduzidos pelo Vedomosti, um dos jornais de negócios mais respeitados da Rússia.

Lá uma foto de Carlos III em uniforme militar cerimonial saiu com uma breve legenda: “Morreu o rei Carlos III da Inglaterra”.

A partir de ali toda sorte de notícias falsas foram glosadas e amplificadas por sites russos próximos ao poder, incluindo o Readovka, um canal pró-Kremlin do Telegram com mais de 2.350.000 assinantes.

Foram difundidas pelo site Mash; na conta pessoal de Vladimir Soloviev, ex-opositor de Vladimir Putin que se tornou o principal propagandista do regime, e pelo site Sotavision.

A página Readovka disse que possuía um documento, aliás de origem desconhecida, que publicou junto com a foto do monarca britânico e o dizer:

“O seguinte anúncio é feito por comunicações fidedignas. O rei faleceu inesperadamente ontem à tarde”, dizia o texto, datado de 18 de março de 2024.

O documento falso ostentava o selo oficial da residência do rei e era uma cópia do anúncio que o Palácio de Buckingham tinha feito quando da morte da rainha Isabel II.

Com essas aparências enganosas, tomou imediatamente conta das redes sociais, onde, conforme o noticiário, foram acrescentados detalhes.

Falsas informações montadas pela guerra psicológica russa.
Falsas informações montadas pela guerra psicológica russa.
Por exemplo, que todas as bandeiras nos edifícios do governo britânico foram baixadas a meio mastro. Quem conta um conto aumenta um ponto.

No entanto, havia vários indícios que deveriam ter alertado rapidamente as vítimas do embuste que o espalhavam talvez pensando em aumentar suas visualizações.

Os indícios punham e dúvida a credibilidade daquela informação: os seus contornos eram confusos, o formato do texto não correspondia ao utilizado por Buckingham nas suas declarações oficiais.

Sobretudo, a notícia não foi aproveitada por mídia britânica alguma, nem as mais baixamente sensacionalista que sabem como receber milhões de visitas de ingênuos, se seus números são verazes...

Mais recentemente, ocorreu a Putin ameaçar Gra-Bretanha mais uma vez com a bomba atômica.

Decididamente, o ditador do Kremlin e seus asseclas ocidentais disfarçados de conservadores ou religiosos não gostam do país que tantos santos e até Nossa Senhora em La Salette predisseram uma futura conversão que impactaria beneficamente o mundo.


domingo, 21 de abril de 2024

Fraude eleitoral de Putin superou 30 milhões de votos

Eleições fraudulentas
Eleições fraudulentas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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diversos blogs







Até hoje as organizações russas independentes tentam chegar a um número aproximado da extensão da fraude eleitoral praticada nas eleições presidenciais russas que voltaram a eleger Vladimir Putin como presidente, segundo antecipado com risível folga.

Segundo elas, a farsa das eleições de 2024 vai bater recordes.

Os detalhes da gigantesca fraude nessas eleições vão ficando cada vez mais claros.

Após a reeleição com o inverossímil 87,28% dos votos por Putin para um histórico quinto mandato pisando uma Rússia cada vez mais submissa, o jornal “Le Monde” citado por BFMTV tentou um balanço objetivo e destacou as manipulações.

Estimativas e observações de várias mídias e organizações independentes segundo “Le Monde” apontam para “a fraude mais significativa da história das eleições na Rússia”, nas palavras da organização de observação eleitoral Golos.

A Golos foi banida do país antes das eleições, obviamente por falta de subserviência ao ditador.

As organizações contaram todas as assembleias de voto em que a participação foi particularmente forte e inexplicável, beneficiando em grande parte o presidente russo.

Usaram o “método Shpilkine”, pelo estatístico que o desenvolveu.

Segundo Golos, o número de votos roubados a favor de Vladimir Putin poderia assim ter atingido os 22 milhões, num total de 76 milhões de votos expressos.

A mídia Novaya Gazeta Europa chega a uma fraude de 31,6 milhões.

As divergências se devem, segundo o “Le Monde”, às mesas de voto tidas como “honestas”, porque aceitaram observadores, e as não-honestas.

Policiais observam se votante foi 'correto'
Policiais observam se votante foi 'correto'
 escala global ocorreram fraudes em muitos mesas. No distrito de Danilovsky em Moscou, onde vive uma população rica e instruída, foram registrados fortes contrastes.

“Onde os observadores independentes conseguiram registrar-se, a pontuação de Vladimir Putin ronda os 60%. Em quatro escritórios onde estiveram ausentes, atingiu… 99%”, relata o correspondente do diário vespertino de Moscou.

Mas houve mesas sem observadores com 100% de participação dos eleitores e todos eles por Vladimir Putin. Na Chechênia, sob uma ditadura islâmica putinista o presidente obteve 98,99% dos votos.

Houve locais de voto onde a manipulação orquestrada foi até flagrada pelas câmeras de segurança com agentes trabalhando duro no clássico enchimento de urnas sob o olhar cúmplice da polícia.

Noutros, a falsificação deu a vitória a Putin na primeira volta por modificações entre a contagem e a publicação dos resultados.

Numa mesa de Moscou, por exemplo, o voto por Putin pulou maravilhosamente de 57% para 86%.

Numa outra de São Petersburgo, o presidente saltou de 77,1% para 98,3% pelo simples aumento artificioso da participação de 64,5% para 95,3%.

Para o “Le Monde” em 2018 os locais de voto “normais” ainda foram maioria.

Mas, nas últimas eleições presidenciais, as mesas “honestas” foram uma deprimente minoria, segundo o meio de comunicação independente Meduza.


Vídeo: funcionárias jogam pilhas de votos em urna




domingo, 31 de março de 2024

Europa pensa em guerra mundial e na Igreja grassa “guerra civil” teológica universal

Almirante Rob Bauer, chefe da NATO diz que aliança se prepara para conflito com a Rússia
Almirante Rob Bauer, chefe da NATO
diz que aliança se prepara para conflito próximo com a Rússia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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continuação do post anterior: Eleição de Putin e rumores de guerra mundial

Europa se prepara para a guerra


Em janeiro, o general Patrick Sanders, chefe do Estado-Maior do exército britânico anunciou que no Reino Unido os cidadãos poderão ser convocados para uma guerra com a Rússia, para a qual as forças armadas se encontram assustadoramente desprovidas de soldados .

Falou também em começar a instrução militar de 120.000 civis.

O encolhimento das mais respeitadas forças militares da Europa é atribuível a décadas de propaganda ingênua de que o comunismo morreu deixando o lugar a uma era sem choques civilizatórios voltada exclusivamente para a economia.

Por sua vez, o almirante holandês Rob Bauer, chefe do Comitê Militar da NATO, defendeu que os países membros devem se preparar para um conflito iminente aberto por Moscou.

No mesmo sentido o ministro sueco da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin, falou para seu pais que, antes que seja tarde demais, todos devem se preparar para o pior dos cenários: uma guerra com a Rússia .

A Dinamarca ordenou duplicar o número de alistamentos e forneceu jatos F16 para a Ucrânia.

O serviço militar obrigatório, há anos abolido, está voltando a Europa e em alguns países incluirá às mulheres na previsão de uma guerra massiva .

E a União Europeia após muitas discussões, validou uma ajuda de 50 bilhões de euros em empréstimos e dons para sustentar Kiev até 2027 e mais 5 bilhões em ajuda militar, segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, após reunião extraordinária em Bruxelas, no início de fevereiro, noticiada por “Le Monde” .

General Patrick Sanders, chefe das FFAA inglesas, alertou para guerra próxima com a Rússia
General Patrick Sanders, chefe das FFAA inglesas,
alertou para guerra próxima com a Rússia
Também haverá eleições gerais para o Parlamento Europeu em junho deste ano que sondarão a opinião publica continental face a um eventual ataque vindo da Rússia.

O ministro da Defesa da Letônia, Andris Spruds, estuda retirar seu país do tratado sobre minas terrestres, ou Convenção de Ottawa.

Os países bálticos concordaram em construir uma “Linha de Defesa do Báltico”, um complexo de bunkers e fortificações, com sensores e obstáculos físicos anti-tanques além das minas.

“Podemos esperar que a NATO enfrente um grande exército de estilo soviético”, disse o diretor-geral do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia, Kaupo Rosin, divulgada em fevereiro .

“Nosso plano é usar massivamente minas antitanque, minas de visão e todo tipo de outras minas”, disse Kusti Salm, secretário permanente do Ministério da Defesa da Estônia.

Políticos bálticos pedem fazer tudo o possível para que o Kremlin pense duas vezes antes de cruzar a fronteira .

O ponto de vista alemão


Exercício NATO
Exercício NATO
Nada alarmou mais do que a difusão de documento secreto das forças armadas alemãs no inicio do ano pelo jornal Bild.

Ele desenha diversos cenários possíveis de uma iminente guerra europeia desatada pela Rússia.

Segundo a hipótese “Defesa da Aliança 2025”, Moscou planejaria atacar o flanco oriental da NATO por volta de junho após uma contraofensiva bem-sucedida contra a Ucrânia, que parece estar acontecendo .

Essa “ofensiva de primavera” engajaria 200.000 homens e seria secundada por ataques cibernéticos e outras formas de guerra híbrida, primeiramente contra a Estônia, a Letônia e a Lituânia.

A Alemanha ocupa uma posição central nesses possíveis conflitos e é muito respeitada na planificação da guerra.

Vizinhos da Rússia temem os tanques de Putin e usam minas terrestres para se proteger de uma invasão russa
Vizinhos da Rússia temem os tanques de Putin
e usam minas terrestres para se proteger de uma invasão russa
Os cenários do Ministério da Defesa alemão focam a Polônia e o corredor estratégico (“Suwalki Gap”) entre a Bielorrússia e o enclave de Kaliningrado há muito identificado como um dos calcanhares de Aquiles da NATO.

Em qualquer um dos cenários, uma guerra aberta entre os dois blocos seria o início de uma Terceira Guerra Mundial, disse a CNN .

O conflito especulado teria como ponto de partida um exercício militar em grande escala na Bielorrússia denominado “Zapad 2024” e teria seu pior momento durante a transição presidencial dos EUA.

A Rússia arguiria falsos “conflitos fronteiriços” ou “motins com numerosas mortes”, ou até um complô macrocapitalista contra a gestão de Putin, o diria agir “em defesa própria” .

Francisco I pede a rendição da Ucrânia?


O golpe psicológico que mais favoreceu a estratégia de Putin proveio infelizmente do Papa Francisco I.

Em entrevista à Rádio e Televisão Suíça (RTS), propôs que a Ucrânia tivesse a “coragem de alçar a bandeira branca e negociar”, gesto universalmente interpretado como capitular diante da invasora Rússia.

A reprovação da proposta foi universal, a Ucrânia convocou o núncio apostólico [embaixador do Vaticano] Monseñor Kulbokas, em sinal de protesto, e se sucederam indignadas críticas e desmentidos vaticanos que não solucionaram o caso.

A diplomacia ucraniana acusou ao Pontífice de “legalizar a lei do mais forte” e apoiar Putin a “seguir ignorando o direito internacional” .

Francisco I pede a rendição da Ucrânia? Não pediu o mesmo ao agressor Putin, seu amigo
Francisco I pede a rendição da Ucrânia? Não pediu o mesmo ao agressor Putin, seu amigo

O secretário geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou que “não é momento para falar em rendição” pois “seria um perigo para todos”.

A única solução negociada duradoura e pacífica passa pelo respaldo militar a Ucrânia, acrescentou.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, discordou das declarações do Papa.

“Kiev tem o direito de se defender e pode contar com nosso apoio”, asseverou.

Os bispos alemães qualificaram “infeliz” a fórmula do Papa, mas adotaram as contorções verbais vaticanas que tentam lhe dar um sentido “benigno”.

O fato que as palavras criticadas deram continuidade à velha diplomacia vaticana conhecida como “Ostpolitik” que há décadas tenta a aproximação com o comunismo, hoje atualizado em Vladimir Putin.

Conflito doutrinário na Igreja


Os ditos do pontífice também atiçaram o violento conflito doutrinário dentro da Igreja rotulado de “guerra civil” religiosa em todos os campos da teologia e da disciplina eclesiástica.

Ela se mostrou agravada pela posta em evidencia de uma infiltração de agentes russófilos provocadores no mundo católico, que não só militam na extrema esquerda mas também se fingem “conservadores” e desta posição aplaudem ou desculpam os crimes de Putin.

Então às pesadas nuvens carregadas do perigo de uma Terceira Guerra Mundial se somaram os temores pelo preocupante estado de saúde do Papa que poderia precipitar a eleição de um sucessor num Conclave decisivo para o futuro da Igreja.

NATO treina a defesa do corredor estratégico Suwalki Gap
NATO treina a defesa do corredor estratégico Suwalki Gap.
Na Igreja, o conflito teológico-moral-litúrgico e disciplinar vai mais longe
Caso aconteça, os misteriosos manipuladores da guerra psicológica no Ocidente e no mundo católico tentarão por certo condicioná-la.

O que aconteceria, então, num contexto de conflito bélico iminente ou em ato, de formas caóticas de guerra híbrida, de ataques cibernéticos e invasões de migrantes empurrados desde Moscou percorrendo a Europa.

Nesse horizonte tenebroso, Putin “consagrado” em eleições fraudulentas, estaria interessado num Papa que olhasse para a Rússia como um baluarte contra o Ocidente corrupto, ponderou o prof. Roberto de Mattei .

Assim de três eleições aparentemente muito diversas – as presidências russa e americana, e a de um Papa num Conclave, que esperamos possa acontecer sem perturbações internas ou externas – neste ano 2024 pode se decidir o rumo da Igreja e do mundo.