domingo, 1 de novembro de 2009

O novo Kremlin não suporta que as ex-nações escravas fujam da tirania cultural soviética

As livrarias de Simferopol, Ucrânia, tem as estantes cheias de obras da literatura ocidental traduzidas para o ucraniano, em edições destinadas aos adolescentes, informou “The New York Times”. O fato em si é pouco relevante: é o que nós vemos habitualmente nas livrarias brasileiras traduzidas para o português.



Mas, o fato encoleriza a vizinha Rússia. Simferopol fica numa região ucraniana em que a maioria é de etnia russa, e outrora os livros saiam em russo segundo o gosto de Moscou.

O governo da Ucrânia favorece naturalmente o emprego do idioma ucraniano em todas as facetas da sociedade, especialmente nas escolas, para garantir que os jovens sejam orientados pela tradição ucraniana e não pelas veleidades neo-soviéticas de Moscou.

O fenômeno que se dá na Ucrânia, repete-se em todos os países do ex-bloco soviético. O resultado é uma diminuição da influência do Kremlin.


Estação de trem de Simferopol (Ucrânia) ainda ostenta estrelha vermelha dos sovietes. Foto de 16 de julho de 2007 ©Dmytro Sergiyenko

“O declínio no emprego do idioma russo é um golpe duríssimo para Moscou, nas esferas econômicas e sociais”, disse o sociólogo Aleksei Vorontsov, da Universidade Herzen, em São Petersburgo.

“Trata-se de um rompimento de laços, deixando a Rússia mais isolada”, acrescentou

“Expulsai a natureza, ela voltará ao galopo” reza um ditado francês. A URSS quis impor sua língua aos países escravizados, mas agora estes conseguiram liberdade e voltam ao galopo para suas caras tradições. A questão da língua também é uma maneira de afirmar a própria soberania.

O russo é um dos poucos grandes idiomas a perder adeptos. A perspectiva é que o número dos que falam russo cairá para 150 milhões até 2025, a comparar com os 300 milhões que o falavam em 1990, antes do colapso da ditadura soviética.

Bandeira nacional ucraniana

Um fato que piora muito o quadro é a diminuição demográfica na Rússia, que até 2050 pode perder 20% de sua população.

A disputa é especialmente sensível na Ucrânia, sobre tudo na península da Criméia, no Mar Negro, onde 60% fala russo. Muitas escolas na Criméia empregam o russo como primeiro idioma, mas com freqüência lecionam matérias em ucraniano. Os exames nacionais mais importantes são feitos exclusivamente em ucraniano.

A presença da influência cultural russa é um dos ganchos aduzidos pelo novo Kremlin (da mesma KGB) para tentar recompor o funesto império da fracassada União Soviética.

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