Monumento ao soldado soviético, em Brest, Bielorrússia |
Na Bielorrússia, extenso país eslavo que foi escravo da URSS e faz fronteira com a católica Polônia, a Igreja sofreu 70 anos de perseguição e ainda hoje geme num ambiente de ditadura comunista, apontou a associação “Ajuda à Igreja que sofre”.
Magda Kaczmarek, encarregada da Bielorrússia em dita associação, voltou a viajar a esse país em novembro de 2014. E deu uma entrevista contando as impressões colhidas nas quatro dioceses católicas do país.
Ela explicou que “é geralmente sabido que os bielorrussos vivem sob uma ditadura. O país está muito isolado e tem-se a sensação de que o comunismo ainda está presente.
“Nas cidades e no campo continuam os monumentos de Lênin, de membros do Exército Vermelho, tanques ou aviões que lembram os velhos tempos. Eu fui criada na Polônia socialista; e nesses dias foi como se tivesse retornado a essa época na Polônia”.
Nas cidades e, sobretudo no campo, tudo é cinza, triste. A vida é muito monótona. O socialismo mantém todos na miséria e há poucos carros. Um ordenado médio é de 750-800 reais.
Estátuas de Lenin, como esta em Minsk, espalhadas por todo o país |
Eles dispõem de pouca informação do que acontece no mundo, e ficam presos à bebida, pois o regime mantém a aguardente muito barata. Há um consumo de quase 16 litros per capita, o maior da Europa.
O visitante encontra cidades como que abandonadas.
Pertencem à Igreja católica pouco mais de 1,5 milhões dos quase 9,5 milhões de habitantes do país, se acreditarmos nos dados oficiais.
A Bielorrússia é o país da Europa Oriental com maior proporção de católicos.
O grupo religioso majoritário é o dos cismáticos ditos “ortodoxos” e “cristãos”, mas cujos dirigentes fazem parte do sistema repressivo comunista e não têm a confiança da população.
A União Soviética marxista tentou erradicar a fé durante 70 anos, contou Magda.
A Igreja Católica foi perseguida e literalmente destruída: suas igrejas foram transformadas em cinemas, armazéns, locais esportivos ou oficinas, aliás um pouco como se está vendo na Europa Ocidental sob o efeito do chamado “espírito pós-conciliar”.
Na URSS, os sacerdotes eram perseguidos, deportados aos campos de concentração da Sibéria ou assassinados.
Igreja de Santa Bárbara, em Vitebsk, uma das poucas que subsistiu em pé |
E a Igreja deve procurá-los, reanimar suas raízes cristãs e catequizá-los. As avós ajudaram a transmitir a Fé levando seus netos à igreja.
“Para mim – disse Magda –, esta viagem, como na verdade todas as outras, foi como fazer exercícios espirituais, pois minha fé saiu reforçada”.
Após décadas de propaganda comunista, a família sofreu horrivelmente. 70% dos casamentos acabam em divórcio, multiplicando-se as “segundas uniões”, as “terceiras uniões”, o “amor livre” e o desespero final.
O desfazimento das famílias repercute nas vocações. Em geral, as vocações religiosas provêm de famílias bem constituídas e com prole numerosa.
A associação para a qual Magda trabalha – Ajuda à Igreja que sofre – auxilia a formação de bons professores e seminaristas.
Magda Kaczmarek contou o que ela viu |
Porém, todas as propriedades eclesiásticas foram confiscadas pelo socialismo, e apesar da rumorosa queda da URSS, nada foi feito para restituí-las a seu legítimo dono, vigorando a regime dos tempos soviéticos.
A hostilidade socialista é ostensiva: conseguir um alvará de construção pode durar anos.
A burocracia funciona para desanimar os católicos e deixa os sacerdotes literalmente doentes, diz Magda.
A Igreja depende em grande medida de auxílios do exterior, e o Estado não coopera em nada.
Os sacerdotes que vêm de fora só podem permanecer alguns meses no país. O governo não prorroga seus visados.
A Bielorrússia é um dos países com maiores índices de aborto no mundo, comparáveis somente aos da Rússia de Putin.
Esse crime organizado e monstruoso constitui também grave ameaça ao catolicismo e ao recrutamento das indispensáveis vocações religiosas, concluiu a entrevistada.
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