domingo, 1 de março de 2015

O dedo do Kremlin no gatilho.
A OTAN, os países vizinhos e a Europa na mira

Agressividade antiocidental está no centro da nova estratégia russa.
Parada na Praça Vermelha para comemorar a vitória soviética em 1945


O Kremlin divulgou no fim de 2014 a versão para consumo público da nova doutrina militar russa, aprovada pelo chefe Vladimir Putin. O plano não faz cerimônia e designa a OTAN como a ameaça fundamental.

A doutrina se diz inquietada pelo “reforço das capacidades ofensivas da OTAN, que ameaçam diretamente as fronteiras russas, e pelas medidas adotadas para implantar um sistema global de defesa antimíssil” na Europa Oriental.

De fato, a Rússia tem todas as razões para detestar esse sistema antimíssil. A sua manifesta inferioridade tecnológica poderia ficar reduzida a quase zero por esse escudo protetor.


Por sua vez, a Ucrânia deu um passo importante para ingressar na Aliança Atlântica, renunciando ao estatuto de país não alinhado. O gesto é simbólico, mas provocou a cólera de Moscou, observou a agência AFP.

O movimento dos não alinhados foi uma iniciativa da União Soviética visando criar uma área de países constitutivos de uma “terceira força” neutra entre Washington e Moscou, mas que na prática obedeceria às injunções soviéticas.

Essa velharia ainda existia, embora ninguém falasse dela, e em sua escalada para a hegemonia mundial Putin queria restaurá-la.

Vale tudo: comboio de tanques de modelos da II Guerra Mundial,  rumo a Rostov, perto do leste ucraniano
Vale tudo: comboio de tanques de modelos da II Guerra Mundial,
ainda em uso, rumo a Rostov, perto do leste ucraniano
Moscou também deblatera contra o posicionamento de tropas da OTAN nos países membros, os quais a Rússia mais cobiça invadir ou atacar. Especialmente nos países bálticos e na Polônia.

O Kremlin não deixa de pavonear o “caráter defensivo” de sua doutrina militar, mas acentua que esse caráter mudará se as soluções não violentas vierem a ser esgotadas. Em outros termos, atacará quando bem entender. A invasão de regiões da Ucrânia é elucidativa desse propósito.

Putin nota que a “probabilidade de uma guerra de envergadura contra a Rússia diminuiu”. Aliás, ninguém quer essa guerra.

Mas inventou uma lista das ameaças que estariam se intensificando, como as reivindicações territoriais e a “ingerência nos assuntos e internos” dos Estados, bem como a instalação de armas estratégicas no espaço.



Esse palavreado genérico e confuso já teve aplicações concretas: a Rússia se reserva o direito de intervir militarmente onde quer haja algum russo étnico ou grupo ao qual o Kremlin concede a cidadania russa como pretexto para depois atacar.

Putin descobre essa “ingerência externa” notadamente nos EUA, onde as agitações ou as guerras locais que ele promove não vão como ele gostaria.

A nova doutrina adota ainda o conceito de “dissuasão não nuclear”, aliás já largamente praticado na intromissão russa na Ucrânia.

Tal conceito exige a manutenção de um alto nível de força de ataque nas tropas convencionais, leia-se armamentismo reforçado.

Putin estimula o culto ao passado soviético. Parada em Moscou, maio 2014
Putin estimula o culto ao passado soviético.
Parada em Moscou, maio 2014
Promete também um engajamento em prol de organizações regionais forjadas pelo Kremlin, como a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) ou a Organização de Cooperação de Shanghai (OCS). Leia-se submissão com mão rígida ou militar dos países “amigos” que se afastem de Moscou.

A Rússia se reserva ainda o “direito” de usar seu arsenal nuclear em caso de agressão contra ela ou seus aliados, ou de “ameaça contra a própria existência do Estado”. Leia-se contra algum separatismo étnico no imenso ex-império soviético.

Moscou também anuncia que uma das principais tarefas de suas forças armadas em tempo de paz será “garantir os interesses da Rússia no Ártico”, região muito disputada por razoes econômicas e decisiva em caso de entrechoque nuclear com os EUA, o Canadá e a Europa do Norte.

O palavreado da “nova URSS” evoca a “novilíngua” ambivalente da premonitória novela “1984”.

O novo plano de defesa ambiciona liquidar com o regime de propriedade privada ocidental e instaurar por toda parte o sistema de propriedade coletiva administrado por poucos oligarcas inteiramente submetidos ao chefe supremo e restaurador da velha URSS travestida de “nova URSS”.


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Um comentário:

  1. Recomendo os textos abaixos:

    http://www.publico.pt/mundo/noticia/ver-ou-nao-ver-1687414

    http://observador.pt/opiniao/receio-que-putin-me-assassine/

    http://observador.pt/opiniao/receio-que-putin-me-assassine/

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