Rússia e China mostraram-se miilitarmente aliados /td> |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Nos dias 11 a 17 de setembro, o exército russo realizou os exercícios estratégicos militares Vostok-2018 (Vostok=leste) com a participação minoritária do Exército Vermelho chinês e um contingente simbólico da Mongólia.
O show teve tudo para impressionar Ocidente. Segundo o think tank britânico Chatam House – The Royal Institute of International Affaires, os exercícios testaram o nível de preparação das unidades, sua mobilidade, logística e entrosamento entre as diversas armas.
A marinha de guerra treinou no Mar de Okhotsk, no Mar de Bering e em Kamchatka.
No total, a Rússia diz que engajou 297.000 soldados dos distritos militares Central e Oriental. Segundo o ministério de Defesa foi o maior exercício coletivo na era pós-soviética desde o Zapad-1981, quando o Pacto de Varsóvia treinou a invasão da Polônia efetivada em dezembro do mesmo ano.
Desta vez, o Kremlin pôs a ênfase nos números ao que tudo indica inflacionando-os, segundo o Chatam House. O exagero obedece à necessidade fundamental de propagandear um poder que não possui mais, especialmente se comparado aos números da URSS.
Generalizadamente não foi acreditado que a Rússia tivesse mobilizado um terço de suas tropas, ou quase 300.000 homens, na sua maioria pobremente treinados por carências orçamentárias.
O analista russo Alexander Goltch, acha mais irreal ainda o número de mil aeronaves e 36 mil blindados mencionado pela máquina de propaganda putinista. A indústria bélica custa a produzir em quantidades relevantes as superarmas que trombeteia.
Putin cumprimenta soldado chinês na Vostok-2018 |
Uma das mais graves é a contração anual da população pelo efeito do aborto e do alto nível de mortalidade masculina atribuída à vodka e ao ópio. Recentemente, Putin exortou os russos a imitarem os judeus ortodoxos que têm muitos filhos.
Cooperam também para essa decadência o desmembramento da ex-URSS que perdeu muitas dezenas de milhões de habitantes. E ainda a decadência geral da economia – que já não permite mais a Putin pagar mercenários vindos de ex-repúblicas soviéticas.
O exibicionismo numérico reforçou a propaganda do líder dentro de suas fronteiras e alimentou preocupações no Ocidente
A Rússia pôs no campo o melhor que tinha inclusive um sistema de ataque combinado usando os sistemas de mísseis S-300, S-400 e Pantsir-S1, além de numerosas unidades de apoio logístico destinadas a sustentar as vanguardas de tropas de ataque.
As práticas colheram as lições apreendidas na invasão da Ucrânia e nos campos de batalha da Síria.
Vostok-2018 exibiu afinidade Rússia-China até agora dissimulada |
Até de recente, apresentava-se os dois gigantes asiáticos como inimistados e impossíveis de se aliarem. A Vostok-2018 afastou essa suposição e a China se apresentou como uma potência “amiga”.
O analista militar russo Pavel Felgenhauer, citado pelo jornal japonês The Japan Times, o Vostok 2018 “não é apenas sobre mandar um sinal, ou uma mensagem, mas a preparação para uma guerra real de grande magnitude”.
Para a China foi uma importante oportunidade para treinar suas unidades que carecem de experiência em combate real com armamento moderno.
Os dois puderam também testar a complementaridade de seus sistemas de armas e o eventual recurso a equipamentos produzidos pelo outro.
A mídia russa focou outro aspecto: a Vostok-2018 teria posto os fundamentos para uma ‘aliança militar antiamericana’.
O ponto de largada desse pacto teria sido o encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping em Vladivostok.
O sinal enviado pelo Kremlin ao Ocidente foi claro: em caso de atrito, Moscou não está isolado e pode contar com a China.
Não há ameaça imediata de guerra, mas Moscou forçou o Ocidente a abrir bem os olhos, até agora um pouco tolamente fechados para uma hipótese que pode se tornar subttamente realidade.
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