Pessoal de emergência do exército alemão leva Alexei Navalny para o hospital Charite de Berlim |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A tentativa do Kremlin de envenenar o dissidente liberal Alexei Navalny foi frustrada por uma pressão internacional.
Navalny foi tratado num hospital alemão especializado nos venenos que os serviços secretos russos elaboraram para punir mais sadicamente seus ex-membros.
O crime reavivou a lembrança de tentativas químicas recentes como os assassinatos do jornalista Timur Kuashev, de Nikita Isaev líder da Nova Rússia – partido de Putin – e de Ruslan Magomedragimov, dissidente do Daguestão.
A esta conclusão chegou uma nova investigação promovida pela rede de dissidentes russos “The Insider”, a grande revista alemã “Der Spiegel” e “The Bellingcat”, publicação especializada em atividades clandestinas ou secretas, que foi glosada pelo jornal espanhol “El Mundo”.
Delatou o plano a movimentação de oito homens do “esquadrão de ataque” do FSB – a continuadora da polícia política soviética KGB – suspeitos da tentativa de envenenamento de Navalny .
Segundo “The Insider” as viagens dos três homicidas coincidem no espaço e no tempo com os ataques cometidos.
O corpo de Timur Kuashev, jornalista de Nalchik, apareceu numa estrada florestal deitado de bruços, com escoriações e hematomas no rosto e nos joelhos.
O legista encontrou uma agulha em sua axila. Os traços de violência eram óbvios, mas o regime putinista atribuiu a morte a uma insuficiência coronariana aguda.
Temia-se que Aleksei Navalny não saísse com vida do hospital de Omsk, Rússia |
Pouco antes do assassinato, o agente do FSB Konstantin Kudryavtsev chegou à cidade e logo depois apareceu outro dos envenenadores de Navalny, o Dr. Ivan Osipov (FSB).
Todos os implicados voltaram às suas cidades nas horas seguintes ao assassinato.
O ativista do movimento social Unidade (Sadval), Ruslan Magomedragimov, foi encontrado morto em seu carro na cidade de Kaspiysk, no Daguestão. A versão oficial diz que ele morreu asfixiado. Mas, segundo os parentes do falecido, ele tinha duas marcas de injeções com seringa no pescoço.
Outros membros do comando assassino, Ivan Osipov e Konstantin Kudryavtsev, voaram para Majachkala e para a vizinha Vladikavkaz quatro dias antes da morte do ativista.
Osipov usava o nome falso de Ivan 'Spiridonov' que sumiu das redes sociais quando ingressou no FSB.
Konstantin Kudryavtsev, usava o perfil 'Sokolov' e trabalhava na unidade militar de guerra química em Shijany, onde o veneno Novichok foi concebido e tinha se graduado na Academia Militar de Defesa Química-Biológica Russa.
A vítima Nikita Isaev, líder do movimento Nova Rússia, foi conselheiro do chefe do partido, Sergei Mironov. Ele morreu no trem noturno Tambov-Moscou. Isaev era um político leal ao Kremlin mas algumas de suas iniciativas não foram do gosto de Moscou.
Os investigadores encontraram pistas do local e da data em que agiram os matadores do FSB estudando as pegadas da vítima durante o último ano de vida.
Oficialmente morreu de ataque cardíaco e seu corpo foi cremado sem autopsia. Sua mulher Alina Zhestovskaya, o viu morrer: “encolheu como se alguém o tivesse esfaqueado no estômago.
Ele disse: ‘envenenado, envenenado’. Não pode dizer mais nada, suas pernas se dobraram, seus olhos ficaram vazios, ele tremia e morreu antes de chegar à próxima estação”.
Alexeï Navaln, uma das vezes que foi preso pelo esquema repressivo |
Três oficiais do FSB seguiram Navalny até Novosibirsk e Tomsk, onde, de acordo com médicos alemães, ele foi envenenado com Novichok, informou Bellingcat. Cfr. Navalny Poison Squad Implicated in Murders of Three Russian Activists.
Eles são membros de uma unidade clandestina de envenenamento do FSB. Mais tarde, o próprio Navalny fez confessar a um deles numa conversa telefônica, após Vladimir Putin negar que soubesse algo sobre o crime.
A polícia russa fez buscas no apartamento de Alexei Navalny em Moscou, nos escritórios e apartamentos de seus aliados enquanto prosseguiam as manifestações – violentamente reprimidas pelo Kremlin – em todo o país pedindo a libertação do líder da oposição que foi preso de novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário