domingo, 11 de janeiro de 2015

Retrospectiva 2014: o ano em que fanou a imagem de Vladimir Putin

O passado glorioso dos mártires cristãos inspirou a reação ucraniana
O passado glorioso dos mártires cristãos inspirou a reação ucraniana


Na passagem de 2013 para 2014, vivia-se na Praça Maidan, da capital ucraniana, um clima nobremente condizente com o passado glorioso dos mártires cristãos e oposto ao da conciliação da Igreja com os seus inimigos.

Sob um frio de muitos graus negativos, bispos e sacerdotes dos ritos greco-católico e latino sustentavam espiritualmente a resistência dos ucranianos que não queriam o retorno de um comunismo metamorfoseado na fachada, mas igual na essência; daquele comunismo que tentou liquidar na Ucrânia a Igreja Católica e que exterminou pela fome milhões de camponeses pobres.

Em barracas transformadas em capelas e sob a égide de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, esses sacerdotes católicos rezavam a Missa, batizavam, confessavam, não raras vezes sob as balas e os ataques da polícia do regime pró-Rússia (“La Croix”, 17-1-14).


No final de fevereiro, o centro de Kiev assemelhava-se mais a um campo de batalha, com franco-atiradores assassinando dezenas de manifestantes entrincheirados que pediam a queda do presidente Viktor Yanukovich, longa manus do Kremlin.

No palanque dos resistentes à “nova URSS” havia imagens de Jesus Cristo, de santos e da Virgem Maria (OESP, 20-2-14). De Roma, porém, não vinham as palavras proporcionadas ao drama em andamento.

Incapaz de dobrar o patriotismo ucraniano pelo sangue e pela violência, Yanukovich fugiu em um helicóptero fornecido pela Rússia.

Na alegria geral, foram sendo derrubadas as estátuas de Lenine
Enquanto isso, na alegria geral, derrubavam-se em cidades ucranianas as estátuas de Lenine, fundador da URSS.

Um governo pró-ocidental assumiu provisoriamente o poder até as eleições gerais que consagraram o atual presidente Petro Porochenko e um novo Parlamento, o qual se aproximou dos países livres do ocidente.

Em represália, o chefe do Kremlin ordenou a invasão da Crimeia, península da Ucrânia, primeiro com soldados sem identificação e depois com tropa de choque pesadamente armada.

Sob a mira de fuzis, um “plebiscito” aprovou a anexação da Crimeia pela Rússia. Mas os números da consulta foram truncados, segundo fonte oficial russa, e os países e organismos internacionais sérios não lhe reconheceram a validade.

Apenas um grupo de “companheiros de viagem” ocidentais convalidou a farsa.

O mundo então se viu subitamente à beira da III Guerra Mundial, segundo analistas qualificados. Separatistas locais, agitadores russos e milícias internacionais fartamente armados proclamaram a secessão das regiões de Donetsk e Lugansk, na fronteira com a Rússia.

Esses agitadores se apossaram de prefeituras, delegacias e prédios do governo em outras cidades do leste ucraniano, mas Kiev dominou a maioria das sublevações, salvo nas regiões mencionadas, onde grassa uma guerra separatista que já ceifou milhares de vidas e ameaça envolver países vizinhos.

Separatistas reforçados por mercenários e militares russos
Separatistas reforçados por mercenários e militares russos
Como na Criméia, os sacerdotes católicos foram perseguidos, presos, torturados e enviados ao exílio, as religiosas fugiram e os templos foram transformados em quarteis.

Em agosto, quando era iminente o fim da secessão, o governo russo enviou à Ucrânia um pseudo-comboio “humanitário” de caminhões militares pintados de branco, mas quase vazios.

Além da propaganda, o comboio teria servido para levar apetrechos aos separatistas, saquear fábricas estratégicas e recolher centenas de corpos de soldados russos mortos na Ucrânia, cuja perda o Kremlin não queria reconhecer.

O “comboio humanitário” precedeu uma invasão militar que forçou o retrocesso do exército ucraniano.

Apesar de o número de mortos superar 4.000 pessoas, incluindo unidades russas inteiras, Moscou classificava de fantasiosas as denúncias de sua participação militar.

Quando prisioneiros russos foram apresentados à imprensa, Moscou justificou-se despudoradamente, declarando que eles haviam se extraviado junto à fronteira.

Um cessar-fogo foi obtido em 5 de setembro e devia estabelecer uma “área de exclusão” de armas pesadas, mas ele foi vago e pouco respeitado.

Durante esse armistício relativo, o número dos mortos em combate ascendeu a mil, a Rússia introduziu grandes contingentes de milicianos ilegais, blindados, armamentos pesados e milhares de soldados.

Putin na crise do rublo
Putin na crise do rublo
E multiplicou as ameaças prometendo usar armas nucleares contra países ex-membros do Pacto de Varsóvia, que hoje participam da OTAN e da UE.

Em novembro era evidente que o frágil cessar-fogo servira apenas para preparar uma guerra que, segundo a OTAN, poderia ser “total”. Unidades da Aliança Atlântica foram transferidas para a Lituânia e a Polônia, países mais visados na fronteira com a Ucrânia.

Em 21 de setembro, dezenas de milhares de moscovitas descontentes com a guerra realizaram uma grande passeata, bradando “Putin, chega de mentiras!” e “Não à guerra na Ucrânia” (AFP, 21-9-14).

Em meados de dezembro, o desabamento do rublo e da cotação do petróleo, somado à carestia dos alimentos, coloca em xeque a estabilidade econômica e social da Rússia.

Os separatistas ucranianos, temendo o fim de seu financiamento por Putin, chegaram a acenar com um acordo em que renunciariam à independência em troca de vantagens locais e procederam a uma troca de prisioneiros.

(Excertos de “2014: Na orla da III Guerra Mundial?” publicado na revista CATOLICISMO, janeiro de 2015, http://catolicismo.com.br/)


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