domingo, 3 de abril de 2016

Patriarca Kirill de Moscou:
líder religioso ou da nova-velha KGB?

A vida de oligarca do regime putinista horrorizada os fiéis russos.
A vida de oligarca da 'nomenklatura'  putinista
escandaliza até os fiéis cismáticos russos que fogem de seus ritos.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Kirill, patriarca de Moscou, era uma das figuras russas menos conhecidas no Ocidente até que a sua imagem se espalhou a partir do encontro com o Papa Francisco I, em Havana, Cuba.

As pomposas vestimentas religiosas desse chefe cismático prolongam a época gloriosa em que Constantinopla, de quem as herda, era unida à Igreja Católica e praticava o magnífico rito concebido essencialmente por São João Crisóstomo.

Nada dessa admirável liturgia e dos costumes eclesiásticos conexos foram concebidos pelo cisma, dito ortodoxo, na sua versão grega ou russa, ou ainda nas muitas outras que houve e há.

O Patriarcado de Moscou não passou de uma invenção política dos tzares que aproveitaram a venalidade do clero cismático.

Esse ficou vilmente submisso ao poder temporal, já nos idos tempos do cisma de Constantinopla, como mostrou o historiador Roberto de Mattei.

Kirill continua essa péssima tradição.



Nele não há muito mais do que um obediente instrumento do poder político supremo, hoje nas mãos de Vladimir Putin.

Na mídia ocidental – aliás, sistematicamente voltada contra a pompa e a hierarquia da Igreja Católica – ele é apresentado como um gigante da religião e fotografado em todo o esplendor das vestes usurpadas.

Mas quem é, de fato, Kirill de Moscou?

A rádio alemã Deustche Welle forneceu esclarecedores dados sobre o ambíguo personagem que qualifica de "amigo de Putin inclinado ao luxo", virtudes não precisamente religiosas.

Kirill em Brasila descendo do avião de Putin.
Kirill em Brasila descendo do avião de Putin.
Segundo a Deutsche Welle Kirill ecoa de forma marcante as instruções do Kremlin ditadas pelos interesses políticos do momento.

Ele prega contra a liquefação da família no Ocidente, nunca contra a catastrófica situação em que se encontra na Rússia. Contra o aborto no Ocidente, nunca contra o aborto que está contribuindo poderosamente para a diminuição da população russa.

Anuncia o Juízo Final ao colocar a culpa na degradação dos países capitalistas e louva as bombas russas na Síria por trazerem paz e felicidade.

Exorta os parlamentares russos a restaurar os valores de Lenine e Stalin, ganha de recompensa um caça-bombardeiro SU-25 e não esconde sua visceral proximidade com presidente Putin de quem foi colega na sinistra KGB.

Não é de admirar que o patriarca e o presidente rejam lado a lado o Estado e seus cidadãos, observou a Deustche Welle, pois apesar de o Estado russo ser ateu, materialista e perfeitamente amoral, Kirill, o patriarca KGB de Moscou, preside um conjunto de clérigos que goza contraditoriamente do status de religião oficial do regime.

Mas, para muitos fiéis ortodoxos russos, o seu líder religioso é um homem de muitas contradições, registra a Deutsche Welle. Muitos russos desconfiam dele e sentem profunda repugnância pelo seu passado colaboracionista na era soviética.

Kirill e Putin protagonizaram a metamorfose que num movimento boomerang saiu da URSS fez um breve voo liberal e voltou à “URSS 2.0” ou “Nova Rússia”.

“O patriarca e o presidente vêm de São Petersburgo, antes Leningrado. Na década de 1970, Putin conheceu ali o serviço secreto KGB. Kirill — na época em que era o seminarista Vladimir Gundyaev — se aproximou da ortodoxia russa”, conta a rádio alemã.

Kirill exibe ostensivamente luxos do mais criticável jet-set ocidental
Kirill exibe ostensivamente luxos do mais criticável jet-set ocidental
Foi na unidade da KGB de Leningrado onde se gestou a amizade entre os dois.

Kirill recebeu uma missão diversa. E uma mão como que ignota o favoreceu. Ele fez carreira eclesiástica e se tornou reitor do Seminário de Leningrado. Aos 31 anos, foi nomeado arcebispo.

Ele soube beijar a mão do metropolita Nikodim que tentava criar pontes com os Papas de Roma, chegando a ser seu secretário particular.

Na sua meteórica ascensão, o próprio Kirill, antes de ser patriarca, esteve com os Papas várias vezes. A última delas, em dezembro de 2007, foi com Bento XVI.

A TV russa transmitiu a cena do pontífice abençoando aos russos e Kirill beijando a mão do papa. Na Rússia, o encontro na capital cubana interessou a poucos.

A reputação do patriarca está maculada desde longa data por escândalos associados ao estilo de vida que lhe é geralmente reconhecido e sua habilidade para negócios nem sempre legal.

Por vezes, usuários descobrem na internet fotos nas quais o patriarca aparece usando um relógio suíço da marca Breguet, que custa 30 mil euros.

Outras vezes, correm rumores sobre os palácios de Kirill em Pizunda, no sul da Rússia, e sua mansão na Suíça.

Para distâncias mais curtas, o patriarca usa uma Mercedes-Benz Classe S blindada e, para distâncias mais longas, seu jato particular, ou um iate de vários milhões de dólares que já foi de Putin.

Desde a década de 1990 o líder ortodoxo russo vem sendo mencionado em reportagens jornalísticas sobre empresas comerciais duvidosas. As acusações de negócios ilegais são frequentes, também contra Putin.

Dilma recebe Kirill em Brasilia com a alegria dos velhos agentes da internacional comunista que se reencontram Foto Agência Brasil.
Dilma recebe Kirill em Brasilia: alegria dos velhos agentes da internacional comunista
que se reencontram. Foto Agência Brasil.
Saindo de Cuba de retorno a Rússia, Kirill passou pelo Brasil, sendo recebido oficialmente no Palácio da Alvorada pela presidente Dilma Rousseff com a alegria de velhos colegas da internacional comunista que voltam a se encontrar.

Dilma e o patriarca tiveram uma reunião fechada só aberta para fotos.

Kirill fez ainda uma cerimônia na capela do Cristo Redentor, cedida pelo cardeal de Rio de Janeiro D. Orani Tempesta.

No ato, o representante russo repetiu a cartilha que o Kremlin lhe confiou. Ele tomou ares de preocupação pela perseguição de cristãos no Oriente Médio e na África, e criticou o aborto, o divórcio e a “rejeição ao conceito de matrimônio como união entre homem e mulher”.

Ele embarcou na Base Aérea do Galeão onde tinha pousado no imenso avião presidencial russo Ilyushin Il-96 emprestado pelo ‘camarada’ Vladimir Putin.


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