Pai vai enterrar seus dois filhos mortos pelo ataque assassino |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na noite de quinta-feira para sexta feira (6/7 de abril) o cenário do mundo deu um giro brusco, até contraditório, de 180º. Dos destroieres americanos – o USS Porter e USS Ross – enviaram uma chuva de 59 mísseis Tomahawk para a base aérea síria de Al Shayrat.
Dessa base partiram os aviões que bombardearam com gás sarin a cidade Khan Cheikhoun matando cruelmente por volta de 90 civis entre os quais 30 crianças.
A resposta americana pulverizou por volta de 20% da força aérea síria.
O fato deixou o mundo pasmo. Todas as predições e cálculos estratégicos no mundo ruíram nesse instante. Todos agora procuram entender o que se passou e se posicionar no novo cenário.
Pois os EUA vinham de bombardearam não apenas uma base síria, mas atingido a menina dos olhos da “nova-Rússia”. Os dois gigantes estão face a face.
O comandante do ataque, Donald Trump, precisamente não tinha ocultado seus fracos e seus pontos de contato com o chefe do adversário: Vladimir Putin.
O predecessor do americano, Barack Obama, durante os oito anos de seus períodos presidenciais havia pronunciado muitos sonoros discursos e definido “linhas vermelhas” intransponíveis pelas agressões de Moscou.
Mas não foi muito além da fala. Provas suficientes são a invasão da Crimeia e a ocupação do leste ucraniano fracamente revidadas.
O tigre da democracia mostrou ser de pelúcia face ao topete dos adversários de Ocidente que nunca pararam de crescer em ousadia diante de tanta moleza.
A crueldade do ataque de gás sarin, arma proibida pelos acordos internacionais, contra civis e as imagens das crianças mortas impressionaram o mundo.
Marinha americana distribuiu fotos do lançamento dos mísseis |
O Kremlin foi o primeiro a acusar o golpe. Por meio de porta-vozes de seu exército defendeu o ataque e espalhou a contrainformação de no local existir um “depósito” onde os opositores guardavam “substancias tóxicas” que se teriam disseminado acidentalmente na atmosfera após um ataque comum.
A hipótese “é completamente fantasiosa e faria rir se a situação não fosse tão dramática”, disse à agência AFP Olivier Lepick da Fondation pour la Recherche Stratégique (FRS), especialista em armas nucleares, radiológicas, biológicas e químicas (NRBC), noticiou “France Soir”.
A hipótese “tecnicamente não se sustenta nem mesmo um segundo”, sublinhou.
A disseminação em forma de spray do agente mortal é a marca de fábrica de uma arma química de construção militar, e não pode acontecer numa explosão acidental.
Estudando as zonas de impacto, o modo como as populações foram atingidas, se conclui “claramente que foram munições concebidas para liberar o agente químico com uma eficácia máxima de difusão”, acrescentou o especialista.
“Se por acaso tivesse sido atingido um suposto depósito, ter-se-ia formado uma nuvem tóxica e jamais a difusão em spray verificada no local. De toda evidencia foi usada uma arma química militar”, concluiu.
E as armas sírias são na sua quase totalidade fornecidas pela Rússia. E a Rússia tinha se comprometido a acabar com essas armas em poder da Síria. Quase que a única coisa que agora se pode discutir é se o/s piloto/s foram de nacionalidade síria ou russa.
O ex-coronel Hamish de Bretton-Gordon, antigo chefe da unidade britânica de luta contra as armas NRBC, tirou a mesma conclusão falando com os médicos civis que atendiam os agonizantes no local.
“A Rússia tenta proteger seu aliado”, disse à BBC. “É claríssimo que é gás sarin, um agente neurotóxico. Se você atinge um depósito de gás sarin o único que pode acontecer é que seja destruído”.
Hamish de Bretton-Gordon “A Rússia tenta proteger seu aliado” |
Julien Legros, pesquisador do CNRS francês na Universidade de Rouen, explicou que os componente do sarin não são estocados no mesmo barril.
Uma explosão convencional que poderia ter desencadeado uma reação dos diversos componentes teria destruído o 90% dos elementos, o restante 10%, embora muito mortal, se vaporizaria entre as outras nuvens geradas pela explosão e seus efeitos ficariam restritos.
Imediatamente após o inumano ataque, o Conselho de Segurança da ONU foi convocado. Todas as resoluções foram vetadas pela Rússia. Essa se defendeu encarniçadamente como se sentindo atingida de cheio.
Nos tempos de Obama essas reuniões acompanhadas de comissões de diálogo intérminas acabavam na impunidade e num acobertamento diplomático do crime.
A embaixadora americana na ONU Nikki Haley usou uma linguagem coerente: “Quando a ONU falha constantemente na sua missão de agir de forma coletiva, há momentos na vida dos países em que esses estão obrigados a agir por si próprios”, informou “El Mundo” de Madri.
Lógica evidente, irrefutável.
A embaixadora sublinhou que embora ainda houvesse detalhes a esclarecer, o essencial estava demonstrado: foram bombas proibidas e de extermínio de massa que já tinham sido usadas contra a população síria em episódios passados e isso não podia mais se tolerar.
Também surpreendente foi a intervenção do embaixador francês François Delattre: os fatos, disse, “demonstram o uso reiterado, metódico e bárbaro de armas de destruição de massa, armas químicas neste caso”.
Pelo que, acrescentou, “a inação e o imobilismo não podem ser opções”.
Delattre sublinhou ter chegado o momento de “por limite” aos crimes do regime sírio, e se voltou contra a Rússia dizendo que há momentos em que ela não pode esquivar sua responsabilidade apelando ao direito de veto.
O alvo foi um hospital que ficou destruído em Khan Cheikhoun, matando muitas crianças |
O representante britânico, Mattew Rycroff, também apontou que “o abuso do direito de veto” pela Rússia, por vezes acompanhado pela China têm consequências cada vez mais graves”.
Na quarta feira, o presidente Donald Trump declarou que “o ataque com armas químicas na Síria para mim violou um monte de linhas e mais do que vermelhas”.
Acrescentou que a situação tinha ficado “intolerável”.
A embaixadora Haley também foi clara com relação à Rússia: “Quantas crianças precisam morrer até que a Rússia se importe com isso?”.
A Rússia apelou a todos os adjetivos para fingir que não sabia de nada, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, respondia que as acusações eram “inaceitáveis”, “provocações” e pedia revisar os textos julgando que estavam mal redigidos.
O representante britânico Matthew Rycrfot verberou a conduta irresponsável russa e deplorou que o mundo veja a ONU como “uma mesa de diplomatas que não fazem nada, e ficam condenados aos braços cruzados por causa da intransigência russa”.
Haley acusou o regime de Damasco, a Rússia e o Irã de não se interessarem pela paz. “Se a Rússia tivesse cumprido suas responsabilidades, o regime sírio não teria arma química alguma para usar”, disse.
Na madrugada da sexta-feira falaram os Tomahawks, a Rússia gemeu e prometeu mandar mais algumas armas à Síria, evidentemente muito abaixo do poder de fogo americano.
E os arautos, civis ou eclesiásticos – até vaticanos – que acreditavam ver em Putin um restaurador do cristianismo e da moral universal, onde estão?
Desejamos ardentemente que abram os olhos e ajam para bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário