Igreja atingida em Kuibyshev, no leste da Ucrânia |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
“A capitulação é uma imitação de paz e uma mudança na forma como infligimos feridas em nosso povo” declarou à agencia de imprensa ucraniana Censor.net, o chefe do rito greco-católico, Arcebispo-mor Sviatoslav Shevchuk de Kiev-Halych, em relação aos atritos armados que perduram nas regiões ucranianas invadidas pela Rússia.
A longa entrevista foi também resumida pela agência “Catholic News Service” dos EUA,
Segundo a ONU pelo menos 13.000 soldados e civis morreram e 30.000 foram feridos no conflito no leste da Ucrânia.
Por volta de 60.000 soldados ucranianos permanecem em pé de guerra numa fronteira de 400 quilômetros enfrentando 35.000 milicianos separatistas, mercenários estrangeiros e unidades regulares do exército russo.
O número dos católicos abarcados pelo rito greco-católico ucraniano não cessa de aumentar inclusive nas regiões ocupadas violentamente pela Rússia, onde o invasor exige que todos os cristãos se insiram no cismático Patriarcado de Moscou.
Das três dioceses que sobreviveram desde o Império Austro-Húngaro o catolicismo ucraniano passou a ter 35 dioceses e 8 áreas metropolitanas, comparáveis a arcebispados. A última metrópole foi criada há 5 anos em Curitiba.
Arcebispo-mor de Kiev: “a capitulação traz uma falsa paz que fere mais ainda o povo” |
Mas, se Ela tenta se fechar sobre si procurando alguma zona de conforto, ela começa a desaparecer.
E é o que está acontecendo inclusive nas regiões da Crimeia, Donetsk e Lugansk ilegalmente ocupadas pela Rússia e seus apaniguados separatistas.
Soma-se a articulação da diáspora católica ucraniana no mundo e na migração forçada de inúmeros ucranianos. Só na Itália há cerca de meio milhão de ucranianos vivendo permanentemente.
A ocupação russa da região de Donetsk, explicou Dom Svyatoslav, é como uma cicatriz viva que corta o corpo do bispado de Donetsk, e regiões dependentes de Zaporizhzhya e Dnipropetrovsk.
O bispo greco-católico de Donetsk não pode voltar à sua diocese desde 2014 porque estava na lista dos ameaçados de morte.
Entretanto, continuam existindo 11 paróquias ativas nos territórios ocupados.
“Curiosamente, muitas pessoas deixaram a área, mas o número de pessoas que vieram aos nossos templos não diminuiu. Nós mesmos não entendemos completamente como explicá-lo”, explicou o arcebispo-mor de Kiev.
“Nossos sacerdotes estão em perigo. Às vezes tínhamos de tirá-los de lá quando havia um perigo e depois voltavam”.
“Não quero entrar em detalhes porque pode ser perigoso para os nossos fiéis. No entanto, apesar das circunstâncias dramáticas, nossos padres permaneceram lá.
“Também conseguimos manter nossa presença na Crimeia. Todas as 5 paróquias lá – Simferopol, Yevpatoria, Yalta, Kerch, Sevastopol – estão funcionando. O Vaticano tomou sob seus cuidados pessoais as 5 paróquias”.
“Nossas paróquias foram forçadas a se submeter a estudos religiosos em Moscou. Graças à coragem de nossas comunidades, pudemos defender nossa presença”.
“Infelizmente, a agressão continua até hoje. O rito greco-católico ucraniano não tem relação direta com o poder ocupante, mas Roma tem grandes recursos de comunicação [e se reúne com Putin]”.
E junto com a Ucrânia toda passou um enorme sofrimento quando o invasor comunista agrediu essa sociedade visando destruí-la.
Naqueles momentos de dor, a Igreja Católica era a única instituição social que protegia o povo e falava em seu nome.
Nunca se tornou parte de um mecanismo estatal como fizeram as igrejas cismáticas.
Entretanto, a Igreja não age como grupo político e não cria seu próprio partido político. A Igreja deve permanecer Igreja mostrando os ideais eternos.
Segundo as estatísticas, um milhão de ucranianos deixam o nosso país todos os anos. Então a igreja segue as pessoas para lhes fornecer cuidado espiritual.
O novo presidente Volodymyr Zelensky está se preparando para futuras negociações com os líderes dos terroristas que tomam conta das regiões separatistas como instrumentos de Moscou.
Os bispos greco-católicos de início escreveram uma mensagem ao mundo chamada “Ucrânia está sangrando”.
Nela explicaram que adianta de pouco ficar curando as feridas da guerra enquanto o agressor não para de causar novos ferimentos.
“A paz, sublinhou o arcebispo-mor, não pode significar capitulação e consentimento para qualquer agressor.
“Nós sabemos pelas lições da história que apaziguar o agressor equivale a alimentar seu apetite”
“Então será uma imitação de paz e as consequências serão piores que a guerra.
“Para que a paz seja real, deve ser justa.
“Caso contrário, será simplesmente uma mudança na forma como infligimos feridas em nosso povo.
“Nós sabemos pelas lições da história que apaziguar o agressor equivale a alimentar seu apetite”.
O arcebispo também manifestou sua preocupação pela recuperação da catedral de Santa Sofia de Kiev que é a catedral mãe.
“Todos os ramos do cristianismo ucraniano, inclusive os cismas, tem como ponto de referência essa catedral que é a igreja do Batismo de Vladimir. Isso exige muita cautela pois é usada por várias denominações.
No mundo eslavo, Kiev é chamada de Segunda Jerusalém e se reproduzem tensões como as que há nessa cidade do Oriente Médio.
Capitulação é uma imitação de paz e uma mudança na forma como infligimos feridas em nosso povo, Arcebispo-mor Sviatoslav Shevchuk de Kiev-Halych, cabeça do rito greco-católico ucraniano, o maior rito católico depois do latino, que tem igualmente sua cabeça em Roma.
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