domingo, 1 de março de 2020

Teia de sicários russos enreda Europa

Yevgeny Prigozhin, o irritadiço e mafioso 'chefe da cozinha' de Putin, escolhe os mercenários e os 'trolls'
Yevgeny Prigozhin, o irritadiço e mafioso 'chefe da cozinha' de Putin,
escolhe os mercenários e os 'trolls'
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Em dezembro/19, o jornal francês “Le Monde” revelou que pelo menos 15 espiões russos, da Unidade 29155 da Direção Geral do Estado-Maior General das Forças Armadas da Federação Russa (GRU), estavam usando a região alpina francesa da Haute-Savoie, como base logística para tarefas secretas, incluindo assassinatos e sabotagens, repercutiu o Eurasia Daily Monitor, da The Jamestown Foundation.

Concomitante a isso, autoridades alemãs divulgaram que agentes russos estavam ligados ao assassinato de Zelimkhan Khangoshvili, um ex-comandante rebelde da Chechênia, morto em Berlim, em agosto, com três tiros disparados em pleno dia, por arma com silenciador, num parque de Berlim. O suspeito preso teria chegado da França, acrescentou “Le Monde”.

A Alemanha acusou o governo russo de relutância em cooperar na investigação do assassinato, sendo dois diplomatas que trabalhavam para a GRU na embaixada russa de Berlim declarados personae non gratae.

Cinco meses depois, o opositor checheno Imran Aliev foi morto a facadas num hotel de Lille, noticiou a Agência France Presse (AFP) citada pelo mesmo “Le Monde”.

Ele foi um blogueiro muito crítico do regime pro-Putin de seu país, parte da Federação Russa.

Costumava postar sob o pseudônimo Mansur Staryi, no Facebook e no YouTube, críticas muito fortes ao autoritário dirigente russo.

No dia 17 de novembro do ano passado, um vídeo publicado no YouTube mostra o diplomata russo Georgiy Kleban dando dinheiro a um oficial sérvio em Belgrado.

É prática comum da GRU manter uma ou duas pessoas entre os adidos militares de cada embaixada russa. Suas tarefas incluem contatos com círculos políticos e militares do estado anfitrião.

O envenenamento de Sergei V. Skripal na Grã-Bretanha acelerou a descoberta da Unidade 29155
O envenenamento de Sergei V. Skripal na Grã-Bretanha
acelerou a descoberta da Unidade 29155
A Agência de Inteligência de Segurança da Sérvia (BIA) expressou profunda insatisfação com o fato de a inteligência russa usar a capital sérvia como plataforma para inúmeras operações especiais em outros países europeus.

Grande número de nacionalistas sérvios radicais, supostamente conservadores ou identitários foram treinados por instrutores da GRU no leste ucraniano ocupado por separatistas filo-russos, segundo a Deutsche Welle.

Já o Ministério Público búlgaro denunciou que o primeiro secretário da embaixada russa em Sofia fez reuniões secretas com cidadãos búlgaros, incluindo um alto funcionário com acesso a informações classificadas da Bulgária, da União Europeia e da OTAN visando ações contra o Ocidente.

Os serviços de inteligência russos instalaram dispositivos de escuta do porão ao telhado do hotel cinco estrelas Marinela, em Sofia, que foi utilizado por líderes europeus na capital búlgara.

O proprietário do hotel, Vetko Arabadjiev, foi agente do serviço secreto búlgaro na era soviética, e hoje é próximo do Partido Socialista Búlgaro, apoiado por Moscou.

A Rússia também visava usar seu esquadrão de assassinos móveis da Unidade 29155 para eliminar o traficante de armas búlgaro Emilian Gebrev.

Uma série de investigações conjuntas apontou que pelo menos oito agentes da GRU tentaram envenenar Gebrev, seu filho e o diretor de sua empresa.

Os matadores dispunham de um veneno da família “Novichok”, que é exclusividade da GRU, também empregado contra o ex-agente Skripal e sua filha no Reino Unido.

Por sua vez, a Catalunha é a região europeia onde mais opera a Unidade 29155, ou “esquadrão móvel” da GRU.

O traficante de armas Emilian Gebrev sobreviveu a tentativa de assassinato em Sofia, Bulgária
O traficante de armas Emilian Gebrev
sobreviveu a tentativa de assassinato em Sofia, Bulgária
Em 2017, foi identificado um “rastro russo” no movimento pró-independência da Catalunha. Em novembro, o Supremo Tribunal da Espanha investigou o envolvimento de um espião russo para desestabilizar a Espanha nas vésperas do referendo na Catalunha.

Ele agia sob o falso nome de “Sergey Fedotov” e esteve envolvido em tentativas de assassinato em todo o continente europeu.

Em outubro, o Serviço de Informações de Segurança da República Checa (BIS) divulgou a existência de uma rede que dependia do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, a “KGB de Putin”) e era financiada pela embaixada russa em Praga.

A tarefa dessa rede consistia em ataques cibernéticos contra alvos na República Checa e seus aliados.

Apesar de o governo russo negar o seu envolvimento na enxurrada de escândalos de espionagem que pulularam por toda a Europa nos últimos meses, ficou muito claro que tais desmentidos de Moscou não apresentam credibilidade alguma, diz o Eurasia Daily Monitor.

Com efeito, a rede de inteligência da Rússia trabalha para minar a coesão interna e a unidade dos países europeus.


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