terça-feira, 26 de abril de 2022

Comunismo versus anticomunismo no cerne da guerra da Rússia contra a Ucrânia

Estátua de Lenin reinstalada em Henichesk pelo invasor russo
Estátua de Lenine reinstalada em Henichesk
pelo invasor russo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Assim que as forças de Putin ocuparam a cidade ucraniana de Henichesk na fronteira com a península da Crimeia, reinstalaram uma estátua de Lenine que havia sido removida, informou o jornal espanhol “ABC”.

Em 2015, esse monumento ao líder da Revolução Comunista de outubro de 1917 foi removido de acordo com a lei de 'descomunização' do país.

A nova estátua se ostenta diante do prédio do governo regional ucraniano no qual, aliás para maior ofensa, agora está hasteada uma bandeira russa.

A agência ucraniana Euromaidan Press noticiou que Yuri Sobolevsky, deputado regional ucraniano de Kherson (a região à qual pertence a cidade de Henichesk) denunciou que “os invasores continuam seus experimentos para voltar no tempo”.

Em análogo sentido, os comunistas saudosistas da URSS manifestaram o seu apoio à injusta e cruel ofensiva de Vladimir Putin contra a Ucrânia, numa cerimônia pelo dia do nascimento de Lenine.

Fazendo seus os slogans falsos elaborados pelo Kremlin os manifestantes atacaram arbitrariamente, e aliás canhestramente, aos “anglo-saxões que vieram à Ucrânia com o objetivo de dominar o planeta”.

Essas inverdades vêm sendo espalhadas pela formidável máquina de mentiras que Putin há anos montou na Rússia para desnortear e caotizar a verdade em Ocidente.

O verdadeiro fundo da guerra russo-ucraniana é a luta entre Nossa Senhora e o diabólico comunismo
O verdadeiro fundo da guerra russo-ucraniana
é a luta entre Nossa Senhora e o diabólico comunismo
Esse sofisma foi repetido pelo primeiro secretário do Partido Comunista da Federação da Rússia (KPRF), Guennadi Ziuganov.

“Hoje, nas planícies ucranianas, está em disputa a questão de saber se o mundo será unipolar sob o seu comando [dos anglo-saxões] ou multipolar”, acrescentou o mofado dirigente das saudades soviéticas, de 77 anos.

Ziuganov também repetiu as acusações contra a NATO e os EUA de combaterem “o mundo russo” sem renovar pelo menos, com sofismas mais inteligentes.

Ziuganov falou na Praça Vermelha no 152º aniversário do nascimento de Lenine (1870-1924), líder da Revolução Bolchevique de outubro de 1917 que fez mais de cem milhões de mortos no mundo e que lançou as bases da União Soviética.

Cerca de 200 saudosistas exibiam cartazes com a foto do ideólogo da “ditadura do proletariado” e as históricas bandeiras vermelhas com a foice e o martelo, indicou a agência noticiosa AFP, citada pela RTP.

No local está o mausoléu de Lenine, cujo corpo embalsamado é ainda exposto ao público.

Cabeça de estátua soviética rola pelo chão de Kiev
Cabeça de estátua soviética rola pelo chão de Kiev
O Partido Comunista de Guennadi Ziuganov finge ser contra Putin e atrai os restos, sempre em diminuição, dos velhos adeptos da falida URSS.

Mas, na prática é um serviçal do ditador que o financia. Jamais deixou de fornecer apoio a Putin e especialmente após a brutal e inopinada intervenção militar na Ucrânia.

Em sentido contrário, a prefeitura de Kiev mandou demolir um monumento histórico da era soviética que celebrava a amizade, imposta com bota de ferro, entre a Ucrânia e a Rússia.

A cabeça de uma das duas figuras principais rolou pelo chão enquanto um guindaste tentava desmontá-la no centro de Kiev, informou BFMTV.

“O que é simbólico (...) é que caiu a cabeça do trabalhador soviético russo” declarou o prefeito da capital ucraniana, Vitali Klitschko.

O prefeito justificou essa limpeza pelo desejo de Moscou de “destruir o Estado e os ucranianos” com a atual invasão.

Segundo ele, outros 60 monumentos, baixos-relevos e sinais associados à URSS e à Rússia serão desmantelados em breve.

Kiev remove estátuada amizade Rússia-Ucrânia
Kiev remove estátua da amizade Rússia-Ucrânia
Mais de 460 ruas também serão renomeadas.

A Ucrânia conduz uma política de “descomunização” há anos, em particular desmantelando as estátuas de Lenine e mudando os nomes de certas cidades para devolver seu nome histórico.

Esta guerra de símbolos patenteia que por trás das alegações mentirosas de Putin e seus cúmplices, na atual invasão está em jogo um embate entre o comunismo e o anticomunismo, entre a Revolução e a Contra-Revolução.


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