Facilidade com que drones destroem caríssimos depósitos russos é atribuída a desvio de verbas na construção |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Os insucessos e/ou parcos sucessos daquela que foi acreditada como “segunda potência militar do mundo” na invasão da Ucrânia desencadearam crises de desconfiança no próprio coração de Moscou.
Esfuma-se dia após dia a aura de ditador intocável de iniciativas invencíveis que envolvia a Vladimir Putin.
Esse então passou a recorrer ao terror e à eliminação de seus mais próximos auxiliares, caprichosamente tidos em suspeição de traições com que sonham os ditadores em desgraça.
O vice-ministro de Defesa a cargo da logística militar durante quase 15 anos Dimitri Bulgakov, fora demitido em setembro de 2022.
Agora foi detido pela polícia secreta de Putin, a FSB, sucessora da KGB, e posto na prisão de Lefortovo, em Moscou, onde gemem detidos altos funcionários e dissidentes que caíram no malestar do dono do Kremlin, informou “El Mundo” de Madri.
O ex-comandante militar é a enésima vítima de alto perfil na purga incessante que Putin conduz entre os principais comandantes do país tentando achar um bode expiatório para o mal andamento da guerra de invasão da Ucrânia.
A FSB é seu grande braço de execução, acentuando o papel dos serviços secretos na tentativa de reverter os maus resultados russos na guerra.
O Kremlin quer mais eficiência na frente de combate passando por cima até da prioridade anterior que era a da lealdade ao ditador ainda que atropelando qualquer moral ou realidade.
O organograma militar estava definitivamente abalado desde que Putin demitiu o anterior ministro da Defesa, Sergei Shoigu, amigo pessoal do líder russo, substituindo-o por um economista, o tecnocrata Andrei Belousov.
Explosão do novíssimo míssil intercontinental 'Satan II' também atribuída a falhas de oficiais corruptos |
Os altos funcionários amigos do antigo ministro da Defesa foram despedidos ou presos, em geral acusados de corrupção e suborno.
Entre eles, o vice-ministro Temur Ivanov, que supervisionava as construções do Ministério da Defesa. A corrupção e desvios de verbas eram segredos a vozes no Exército Vermelho e quando a frente de combate continuou enviando notícias que não eram as que Putin queria, os que seriam condenados já estavam escolhidos.
O caso de Ivanov é paradigmático, segundo “El Mundo”.
Supervisionar as construções do Ministério da Defesa russo era uma das posições mais lucrativas na Rússia: onde milhões são ganhos com o peculato de recursos públicos.
A bem dizer, até o próprio Putin é acusado a boca pequena de fantásticos desvios de capitais, bem aplicados no Ocidente.
Mas, ai de quem falar forte!
A Rússia está se preparando para uma guerra longa e custosa e não quer perder um único rublo (menos os que estão no meu bolso, diriam alguns).
A máquina estatal russa, durante anos funcionou na base da corrupção, a serviço da ideologia mais corrupta da História.
O enriquecimento ilícito consolidava as lealdades sem mecanismos de controle.
Enquanto foi possível anunciar o feliz desenvolvimento do plano do ditador que devia se concluir em três dias de uma vitória relâmpago, malgrado estivessem passando meses e anos, tudo corria bem, porque assim Putin queria.
Mas quando as notícias reais da guerra ficaram indissimuláveis se acenderam tétricas luzes em alguns escritórios.
Bulgakov foi logo responsabilizado pelas falhas logísticas do exército russo, difíceis de acreditar de tão monstruosas.
As tropas russas estavam gravemente sub-abastecidas e os avanços de Moscou se retardavam.
Pior ainda foi quando os ucranianos invadiram a própria Rússia sem encontrar uma defesa eficaz.
Andrey Belkov, chefe da empresa de construção militar no Ministério da Defesa russo, também foi preso por abuso de poder.
O combate à corrupção no exército foi a oportunidade para os serviços de segurança se vingarem dos militares, segundo explicou o analista Giorgi Revishvili, antigo conselheiro do Conselho de Segurança da Geórgia.
Vladimir Verteletsky, chefe do departamento de compras de defesa do Ministério da Defesa foi preso em maio.
E no mesmo mês, Vadim Shamarin, vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas acusado de suborno.
O novo Ministro da Defesa, marca pontos ante Putin com purgas que enterram a era Shoigu mas ali não se decide a guerra na Ucrânia.
O imenso arsenal de Tver 'a prova de bombas atômicas' destruído por drones fora mal feito por corrupção |
Na guerra o chefe do Estado-maior deve dirigir as operações na frente, garantir que nada falte aos combatentes.
Mas, com as purgas putinistas, ele deve se concentrar contra os inimigos da retaguarda instalados em ministérios e comandos militares. Pelo menos, até não cair ele próprio.
Agora o grande objetivo é racionalizar a produção militar para uma longa guerra – sim, aquela que está anunciada para ser ganha nos primeiros três dias.
Ela só poderá ser decidida aumentando a produção industrial militar ainda que custe a fome dos civis.
Produzir mais armas e mais munição mais rápido enquanto chovem os drones ucranianos sobre Moscou e pegam fogo as refinarias de petróleo e gás não é nada fácil.
Putin visitou os países amigos – os “países bandidos” – para implorar armas e munição, de péssima qualidade, aliás.
Muitas teriam virado fumaça nos recentes bombardeios de drones ucranianos a grandes depósitos de armas.
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