Empobrecimento do povo russo não incomoda o Kremlin

Miséria atinge hospitais russos

Luis Dufaur

O desabamento da economia e a queda na pobreza da tão castigada população russa caracterizaram-se pelo aumento dramático dos furtos em supermercados e mercadinhos, segundo o jornal britânico The Telegraph.

Esses pequenos furtos, indicativos de uma população com carências básicas, aumentou 44% em 2014. O total dos bens roubados atingiu 930 milhões de rublos (perto de 20 milhões de dólares).

O surpreendente do dado é que os ladrões procuravam produtos de baixo valor, mas indispensáveis à sobrevivência, segundo informou o jornal moscovita Izvestia com base em dados do serviço tributário do governo.

Para o jornal, esses furtos são “apenas o topo do iceberg”, pois só são contabilizados os furtos denunciados à polícia e as lojas não costumam denunciar roubos de pequeno valor.

O verdadeiro nível desses roubos poderia ter atingido 2 trilhões de rublos ou perto de 40 bilhões de dólares.



Segundo o Izvestia, por volta de 55% das ocorrências foram em Moscou.

O nível de vida russo vem declinando acentuadamente desde a invasão da Ucrânia, com as sanções ocidentais e a queda da cotação do petróleo. O rublo perdeu 41% de seu valor em relação ao dólar.

Representantes do governo de Vladimir Putin continuam insistindo em que o pior já passou.

Por sua vez, a ministra da Saúde, Olga Golodets, divulgou que o número total de pobres na Rússia atingiu 22 milhões, ou 15% da população.

“As previsões se cumpriram. Segundo a estatística oficial, o número de pobres já é de 22 milhões de pessoas. É crítico”, lamentou Golodets pelo canal de televisão “Rossia-24”, segundo a Folha de S.Paulo.

Furtos em supermercados batem recordes. Foto Itar-Tass.

A economia contraiu 2,4% nos primeiros quatro meses do ano em comparação com o mesmo período de 2014, segundo dados do Ministério da Economia da Rússia.

O ex-ministro de Finanças russo, Alexei Kudrin, prevê que o país não voltará a crescer "até o primeiro ou segundo trimestre do próximo ano".

Kudrin lembrou que “uma escalada da tensão internacional poderia provocar uma nova onda de sanções contra a Rússia” e repercutir negativamente na abalada saúde de sua economia.

Símbolo inesperado da decadência da economia russa se deu na região siberiana de Omsk, onde 23 soldados morreram no desabamento de um quartel de quatro andares destinado ao adestramento de tropas aerotransportadas, informou a RAI News.

Segundo o serviço de imprensa do ministério russo de Defesa, no momento da tragédia havia 337 soldados no prédio, cinco dos quais continuam desaparecidos.

As causas da ocorrência não foram esclarecidas e a mídia russa faz elucubrações que provavelmente nunca serão confirmadas, para não diminuir a imagem do César do Kremlin.

Moscou destrói toneladas de alimentos importados contrabandeados. Populares reclamam pois poderiam ser encaminhados para necessitados, escolas ou asilos onde há fome:

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