A área vermelha do gráfico representa o tamanho estatístico da fraude em favor da Yedinaya Rossiya (Rússia Unida) o partido de Putin |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Continuação do post anterior: Tal como na velha URSS, a fraude eleitoral na “nova Rússia” – 1
A agência ucraniana Euromaidanpress foi estudar os resultados oficiais publicados na Internet pelo Comitê Eleitoral Central da Rússia.
E com simples métodos estatísticos aplicados pelo matemático russo Sergei Shpilkin logo constatou tratar-se de mais uma fraude eleitoral maciça.
Nem o Kremlin se preocupou em maquiar os resultados com números matematicamente congruentes.
Sem falsificações maciças, analisou Shpilkin, os partidos de oposição poderiam ter tirado 49,47% contra 40% da Rússia Unida de Putin. Porém, os resultados oficiais invertem os números e reduzem o conjunto da oposição a 37,09% contra 54,17% do partido do chefe do Kremlin.
Teria sido a primeira vitória de uma oposição em bem mais de uma década.
Shpilkin e seu colega Pshenichnikov expuseram pormenorizadamente suas conclusões no mencionado artigo da Euromaidanpress.
Nas redes sociais viralizaram vídeos de câmaras de segurança ou de particulares flagrando cenas de fraudes que parecem cômicas se não fossem trágicas.
Falsários, responsáveis pelas urnas e votantes em geral em alguns casos praticam ou assistem às fraudes ostensivas sem se preocuparem muito.
Afinal, estava escrito! E ai de quem protestar contra o chefe do Presidium da nova-URSS!
Para o “The New York Times”, a vitória de Putin aconteceu em meio a tantas irregularidades, que a Rússia parece ter voltado ao pseudo-parlamentarismo do regime soviético.
A Constituição atual sem dúvida concede à Duma poderes desconhecidos na antiga URSS, mas quem vai criticar as políticas do Kremlin?! Pode acabar como outros, morto por um “checheno” numa noite de Moscou.
Ai de quem protestar contra o chefe do Presidium da nova-URSS! |
O jornal nova-iorquino já não pôde mais fingir. E reconheceu que a “maior verdade é que os opositores de Putin foram sistematicamente encarcerados, forçados ao exílio, acossados, intimidados e, em certos casos — como o líder da oposição Boris Nemtsov —, simplesmente assassinados”.
Os poucos candidatos opositores não tiveram tempo na TV, seus doadores fugiram deles, temendo atentados e represálias.
O Levada Center, o maior centro independente de sondagens da Rússia, detectou uma queda na popularidade do partido de Putin e logo foi etiquetado de “agente externo”, rótulo que pode custar sua existência ou o exílio.
A única forma de manifestar discordância consistiu em não votar. O absentismo de 47,8% foi recorde na Rússia pós-soviética.
Em Moscou, todos os candidatos elegíveis somados recolheram menos de 30% dos votos.
O método está testado e garantido para Putin se reeleger mais uma vez presidente em 2018.
A grande certeza que emerge da última eleição, conclui o jornal americano, é a de que os russos que queriam conduzir seu país para uma democracia verdadeira foram postos fora da estrada.
A revista “L’Express” e o jornal “Le Figaro” da França citam a especialista francesa Marie Mendras, pesquisadora no CNRS e na Faculdade de Ciências Políticas da Sorbonne. Segundo ela, houve “resultados aberrantes num grande número de regiões”.
Mendras observou que “os resultados oficiais não refletem honestamente o comportamento eleitoral dos russos”. E acrescenta que, segundo fontes independentes, pode-se afirmar que só 20 milhões de russos – de um padrão eleitoral com 111 milhões de inscritos – votaram pelo partido preferido de Putin.
Segundo ela, os resultados “foram deformados em vários níveis por um regime que pode ir muito longe na transgressão e nas fraudes”.
A especialista menciona como antecedente a votação na Chechênia em 2011, que consolidou o poder putinista com 98% dos votos, número que espantou até o autocrata local Razman Kadyrov, o protegido do Kremlin.
Prof.a Marie Mendras, de Ciências Políticas da Sorbonne e do CNRS: “a nova Câmara baixa não pode ser reconhecida como legitimamente eleita” |
E ainda as “urnas móveis” – oficialmente reservadas aos doentes e idosos – que voltaram com volumes desproporcionados de votos.
O inventário das fraudes é muito difícil de completar, de tal maneira foram numerosas, diz a investigadora francesa.
Ela acrescenta que só havia observadores para poucos milheiros das 94.000 mesas. “Em 2011, os observadores puderam formular uma avaliação da extensão da fraude”, explicou Marie Mendras. Porém, acrescentou, “nós jamais poderemos ter a mesma precisão nesta eleição”.
Por isso, concluiu a especialista, “a nova Câmara baixa saída das eleições não pode ser reconhecida pelas grandes democracias como legitimamente eleita”.
No Ocidente, muitos líderes políticos e o macrocapitalismo publicitário, que até podem bancar políticas e posições opostas às do Kremlin, não tirarão as consequências e seguirão agindo como se nada de grave tivesse acontecido.
Entre a Nomenklatura do comunismo metamorfoseado e o seu equivalente macrocapitalista ocidental há uma estranha afinidade e cooperação.
Como nos tempos da velha URSS.
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/france/7771858/French-secret-service-fear-Russian-cathedral-a-spying-front.html
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