Governo russo estaria falsificando as estatísticas para promover a imagem de sua medicina |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Para o Kremlin, a vacina Sputnik V tem o valor de uma cartada propagandística que deve ser projetada para levar o prestígio do regime a um ápice.
Ela serve para dizer que a medicina russa está no topo porque sua vacina foi a primeira aprovada contra o coronavírus. Então Vladimir Putin tece uma diplomacia de Guerra Fria opondo Leste contra Oeste, escreveu “Clarín”.
Porém, nem os russos acreditam.
Na Argentina o governo nacionalista de Alfredo Fernández incondicional amigo dos russos e do socialismo tenta vacinar todo mundo com ela. Mas a Rússia não consegue entregar em tempo nas quantidades prometidas e os números de contágios e óbitos não param de crescer.
A percentagem da população vacinada na Rússia (5,71% dos habitantes) é menor que na Argentina (9,39%).
A Rússia não entrega em tempo as quantidades prometidas |
A Rússia esconde as mortes, mas os cidadãos russos temem mais a vacina e se justificam dizendo que eles estão acostumados a passar muito mal.
Putin anunciou o registro da vacina quando essa não tinha passado ainda os testes de fase III. Ele ofereceu como “garantia de confiança” que uma de suas filhas, até então desconhecida, havia sido puncionada.
Alberto Fernández se ufanou de assinar o contrato de compra com os russos em dezembro de 2020, ainda com os testes não concluídos.
Mas agora, num regime catastrófico, chora com a chegada de um milhão de doses de Pfizer, odiada ideologicamente porque é americana.
Posteriormente, a famosa revista The Lancet endossou os estudos do Sputnik em sintonia com as autoridades russas e o governo de esquerda argentino comemorou uma redução significativa na mortalidade com uma única dose de Sputnik. Ou seja, os que aguardavam a segunda vão ter que aguardar para além dos limites.
Em Komi, o governo ordenou lockdown, mas das informações sobre o Covid |
O problema é que os russos não vão.
A demora de Putin em se vacinar alegando ser perigosa para os maiores de 60 contribuiu para o clima de desconfiança. Putin acabou vacinado, mas não se sabe com qual.
“Os russos não confiam em seu próprio Estado e não confiam no que pode sair desse Estado”, explicou Andrei Kortunov, do Conselho Russo para Assuntos Internacionais, à BBC.
Nas ruas de Moscou enormes pôsteres exibem a foto de um médico dizendo: “Acredite em mim. Vacine-se”. Mas, mesmo assim os russos não acreditam nem nos certificados de óbito e acham que o governo esconde os números.
Muitos foram de celular na mão para reclamar o corpo de seus pais e tiveram os aparelhos quebrados no chão.
O “The New York Times” publicou longa reportagem sob a manchete “’Não se pode acreditar em ninguém’: os estragos ocultos da Covid na Rússia já são um segredo público e notório”.
O Ministério da Saúde brasileiro vetou a Sputnik-V por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A Anvisa concluiu sobre a Sputnik V que há falta de dados consistentes e confiáveis, falhas no desenvolvimento e na produção em todas as etapas dos estudos clínicos, ausência ou insuficiência de dados de controle de qualidade, faltas de segurança que podem acarretar infecções em seres humanos, danos e óbitos, foge dos padrões de qualidade da Organização Mundial da Saúde (OMS) presença de impurezas e de vírus contaminantes no processo de fabricação, ausência de validação/qualificação de métodos de controle, ausência de testes de toxicidade reprodutiva, desconhecimento de efeitos adversos de curto, médio e longo prazos.
Uma série de problemas foi o resultado de uma missão de inspeção enviada à Rússia, onde não foram identificadas condições de fabricação e controle de qualidade e foi negado à equipe brasileira o acesso às instalações do instituto desenvolvedor da vacina.
A Rússia nega tudo e atribui a recusa a manipulações ideológicas dos EUA e do governo brasileiro.
Cientistas russos teriam desenvolvido uma vacina considerada uma das melhores do mundo, mas não entrava na estratégia de guerra da informação do Kremlin que queria a Sputnik V e teria sido silenciada.
“É difícil encontrar um país com números piores em relação à mortalidade de Covid”, disse Aleksei Raksha, um demógrafo independente em Moscou. “O governo faz todo o possível para ocultar os dados”, cita “The New York Times”.
As estatísticas russas são falsificadas para favorecer a imagem do regime |
Na região de Samara – onde passa o rio Volga entre campos de petróleo e fábricas de carros – teve 10.596 mortes excedentes quando os números oficiais só falavam de 606 mortes do coronavírus.
Até esses falsos são pretexto para os russos dizerem que a doença não é grave. Outros acham que, como sempre, o governo mente, e supõem números gigantescos, ou acham que é o coronavírus é uma arma biológica da Fundação Bill e Melinda Gates, acrescenta o jornal americano.
A palavra Covid-19 não pode aparecer na certidão de óbito. Já antes não se confiava nas certidões, mas se acredita menos agora que o governo apregoa a segurança da vacina.
“Quem sabe o que tem dentro! Você não pode confiar em ninguém”, clama Inna Pogozheva, ginecóloga cuja mãe morreu oficialmente numa tomografia e que não pode ver seu corpo.
Em Samara, o governo diz que a pandemia só matou 1 em cada 250 óbitos. Mas Viktor Dolonko, editor de um diário cultural, teve cerca de 50 de seus conhecidos ceifados pela pandemia.
E se consola pensando que “ao contrário dos ocidentais, os russos sabem o que é viver em condições extremas”, aludindo às desgraças que se abatem quotidianamente sobre o sofrido povo russo.
Não é mais desorganizada que a vacina no Brasil,
ResponderExcluirMilhões de pessoas aguardando a segunda dose da Coronavac.E o governo bolso vai brigar com a China, fornecedora da matéria prima para a vacina!